Um Natal Vazio.
Participação da autora - Darcy Brito nessa Coletânea de Contos de Natal, editado pela Planeta Azul Editora.
Dizem que uma Árvore de Natal tem que contar uma história. Sabendo disso sempre guardo os enfeites e penduricalhos natalinos da minha Árvore de um ano para outro. Alguns deles ainda do tempo em que as bolinhas coloridas eram de material quebrável. Guardo enfeites comprados de diversas lojas, inclusive da saudosa loja Mesbla. Também guardo os comprados nas viagens por onde andei. Mas ao falar de Natal prefiro lembrar dos idos da minha infância, ainda garota, vendo minha mãe armando a árvore dela feita de sisal ou corda desfiada tingida de verde. Não se comprava árvores prontas como as de hoje em dia. A meninada corria para ajudar, e, muitas vezes, por descuido, deixava cair no chão um enfeite que se quebrava. Não tinha iluminação com lâmpadas coloridas e sim pequenas velas presas nas pontas dos galhos, o que exigia muito cuidado para não incendiar. Depois de armada, a árvore era colocada no meio de uma mesa onde iriam ficar as guloseimas da ceia de Natal. Era uma festa ao som das músicas natalinas que vinha das rádios. Mas, à medida em que os hábitos foram mudando, o que era encantamento ficou guardado no baú da vida. Natais alegres com histórias fantasiosas de Papai Noel distribuindo presentinhos a crianças vive na minha lembrança. Uma das lembranças que sempre me vem à mente é a de Bil, um garotinho bem pobre, que ganhou de minha mãe uma camisa e um short novo, espiando a festa escondido numa escadinha, que dava para uma baixada da casinha dele, no dia de Natal. Chamamos para participar da festa mas ele se recusou porque estava descalço, pois o único presente que tinha ganhado foi aquela roupinha nova. Nunca esqueci essa imagem dele, sorrindo e escondendo os pés nos degraus ... "Papai Noel esqueceu dos sapatos", disse ele.
Porém, Natal marcante mesmo foi o do ano de 2020, quando todo o mundo se viu impedido de se abraçar e beijar por causa da pandemia do pior vírus dos últimos tempos. O Corona Vírus Chinês. Contemplei minha árvore embalada com seus penduricalhos ensacados e me perguntei... Como armar e enfeitar uma árvore sem o calor humano dos que costumavam se reunir trocando abraços e presentes aqui em casa? De que vale tirar fotos com mesas sem as guloseimas natalinas, peru enfeitado com nozes e passas? Para mostrar o vazio no Instagram? Acho que nem Papai Noel se arriscou tirar as costumeiras fotos nos shoppings . Esse dilema me acompanhou durante duas semanas antes do Natal. A sensação era de vazio. Todas as notícias eram de um Natal sem precedentes com mil recomendações de distanciamentos. Decidi que não iria comemorar. Mas, os inconformados com a situação me levaram para curtir um Natal de mascarados onde apenas cinco pessoas da família comemoraram com o devido distanciamento protocolar. Busquei dentro de mim o melhor sorriso que consegui para desejar a todos um próximo Feliz Natal.
Gostaria de relembrar muito mais episódios felizes, mas não quero regar com lágrimas este texto na esperança que tudo venha a melhorar nos próximos anos; afinal, meu futuro está muito menor que o meu passado. Espero que este ano, em que estou escrevendo essas lembranças, Um Natal Vazio, eu possa iluminar minha árvore com todos os seus enfeites e brilho das lâmpadas coloridas, e que "Papai Noel traga a felicidade pra nos dar". afinal nunca devemos parar de conjugar o verbo esperançar, pois é isto que faz a vida seguir em frente.
UM FELIZ NATAL A TODOS E UM ANO DE 2022 BEM MAIS ALEGRE.