A Lei de Murphy*
08.12.21
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Fomos tomar a dose de reforço da vacina contra a Covid em posto de vacinação. É em centro de convenções do Estado distante meia hora de viagem. Saímos de carro no meio da manhã, minha mulher e eu.
Não acordara muito bem nesse dia. Estava meio tonto, parecendo baixa a minha pressão arterial. Mas, como tomo vários remédios depois do café da manhã – quase septuagenário que sou, deduzi que ocorria a sua interatividade. Também, toda essa “remedaiada” causa muita vontade de urinar. Coisas do avançado da idade...
Logo paramos em loja de produtos naturais no centrinho comercial daqui. Fiquei no carro esperando meio zonzo. Demorava. Resolvi ir até ela. Encontrei-a na loja ainda escolhendo produtos.
Aguardando, fui flanar desinteressadamente em uma loja de móveis ao lado para passar o tempo.
Voltei ao carro com ela me esperando. Fomos para a vacinação. O transito de saída desse comercio é pesado, muitos carros e pouca rua, o que causa uma demora acentuada - um anda e para irritante.
Passamos o engarrafamento com alguma demora. O nosso trajeto era por estrada com subidas e descidas de morros e várias lombadas redutoras de velocidade, o que aumentava o tempo de chegada. Também, o fluxo de turistas que visitam aqui no final de ano, sempre passeando com vagar e desconhecimento, contribuindo para a piora do transito. Muita paciência é necessária nesta época na ilha. É um inferno trafegar por ela na temporada. Então, tenuamente apareceu a vontade de urinar.
O carro estava com o pneu traseiro direito vazando ar. Paramos em posto para enchê-lo. Doze libras. Furado com certeza. Coloquei trinta e seis libras para continuar a viagem, pois sendo sem câmara não murcharia rápido. Mais demora. Seguimos.
Faltavam alguns quilômetros até o local de vacinação, mas o trafego turístico implicava em velocidade menor que o normal. A vontade de urinar despontava com mais intensidade, deixando-me ansioso e um pouco aflito, mas suportável.
-Não esquece de que ainda temos que jogar o lixo seco no descarte da Prefeitura – lembrou-me ela.
-Tá querida – esquecera-me totalmente; mais uma parada no caminho. Caramba, será que aguento? Questionei-me, pois a vontade aumentava bastante.
O local de descarte era no caminho da vacinação. Chegamos, e rápido peguei o lixo reciclável e joguei no contêiner. Finalmente, íamos ao posto de vacinação. Estava aflito.
- Preciso ir ao banheiro querida – disse-lhe ansioso, dirigindo rapidamente o carro.
- Vai aqui!
- Vou lá, melhor, já resolve os dois assuntos. Dá para aguentar – respondi-lhe corajoso.
O acesso ao centro de convenções era em longa estrada de pedregulhos, cruzando os fundos do seu terreno, com pouco ou nenhum trafego de carros ou de pessoas. Chovera pesado na noite anterior, causando muitas poças d’agua e lombadas no piso enlameado, balançando e socando bastante o rodar lento do veículo. Foi o pior. Ficou incontrolável.
-Querida, vou parar aqui, não tem ninguém e não aguento mais! – parando e saindo correndo do carro.
Postei-me junto à lateral traseira esquerda do veículo. Atrás, havia um alambrado e um prédio térreo recém-construído totalmente deserto e silencioso, aparentemente.
Comecei a urinar tranquilamente e aliviado. Quase ao final, escuto uma voz firme e impositiva:
- POIS NÃO SENHOR?
Não acreditei! Quem me chamava? Virei o rosto na direção da voz e vi junto ao alambrado um segurança olhando-me inquisidor.
- Me desculpe, não pude aguentar, estava muito apertado. É a idade... - fechando a braguilha, voltando rapidamente ao carro.
- Acredite que apareceu do nada um segurança querida, justo quando urinava calmamente? É possível? Sem viva alma, sem carro passando, me vem ele questionar a minha urinada. Eu mereço!
- É a lei de Murphy* querido. E o que disse a ele? – falou com sorriso maroto nos lábios.
-Assumi a minha condição de idoso, dizendo-lhe que estava muito apertado e não pude aguentar.
- Você usa bem essa desculpa da idade, né querido – divertindo-se com a cena de ter sido flagrado inesperadamente naquela delicada situação .
-Sim, aos idosos tudo é perdoado não é mesmo? – rindo junto.
Aliviado, tomei a vacina de reforço. Minha mulher não; ainda está fora do prazo definido. Voltaremos em Janeiro.
*Em 1949, o capitão da Aeronáutica dos EUA, Edward A. Murphy Jr., conduz um teste sobre efeito das forças gravitacionais sobre pilotos de jato. Um assistente instalou errado os sensores eletrônicos no cinto de segurança, anulando a leitura de dados. Murphy teria dito sobre o subordinado:
“Se houver alguma maneira de fazer as coisas erradas, ele o fará”
Outra versão para a origem da lei é a de que outros militares tiraram um sarro da frase, adaptando-a para “tudo o que puder dar errado dará” e batizando-a como lei de Murphy .
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-a-lei-de-murphy/