CONTRADIÇÕES DO TEMPO
Muitas vezes eu penso no tempo, como algo tangível, como se pudesse impedir seu curso implacável.
Como em Campinas, certa vez, na casa de meu tio Eduardo, decidi ir sozinha a sorveteria com toda pressa e coragem do mundo. E sozinha me vi olhando para todos os lados, agora desconhecidos, parei.
O meu tempo congelou naquela calçada e como um véu fechou meus olhos, com as lágrimas molhando meu rosto e escorrendo ao mesmo tempo ou talvez tão rapidamente quanto o sorvete em minhas mãos.
Quanto tempo meu tio perceberia minha ausência? Como olharia para mim, paralisada pelo medo, enquanto o sorvete derretia em meus braços, agora quente, era tarde, eu perdi a vontade ou acabou a graça? Passou do tempo.
Ou era cedo para mim, tão criança e confiante? Era tão perto e tão rápido! Num piscar de olhos, distante em um instante.
O tempo, tal como o sorvete, escorria entre meus dedos... gelado e passageiro.