NA "CURVA" DO DESTINO !

NA "CURVA" DO DESTINO

Num famoso bar na avenida principal da Belém reuniam-se os jornalistas que pontificavam em dois dos 3 ou 4 Jornais próximos, isso nos anos 70. E a qualquer hora que estivesse o Bar aberto, nele estariam jornalistas, desenhistas e o "zoológico" inteiro que frequenta Redações, dos chefes delas aos iniciantes, "focas" na época. Em mesas separadas -- juntadas 2 ou 3, se necessário -- o "staff" em peso de cada Jornal, dos mais sisudos aos mais gaiatos. E claro, um velho jornalista, respeitado e admirado no meio, cuja saudação era sempre a mesma para todos, pouco importando a função ou importância do cumprimentado:

-- "E aí, "bunda mole" !, em tom de chacota, avacalhação.

Naquele dia não foi diferente, só que aquele era um dia diferente, um "foca" estava na mesa. Do tipo "mauricinho", terno abotoado, 40 graus lá fora, gravata aprumada.

-- "Eu não ouvi direito... o senhor me chamou de quê" ?!

-- "E aí, bunda mole"... foi o que eu disse, você é surdo" ?

-- "O senhor não me conhece, pra ter tanta intimidade" !

Um sonoro OOHHH ecoou por toda a mesa, facas e garfos tilintaram nos copos, antevendo o entrevero iminente.

-- "Meu amigo e eu ESTAMOS OFENDIDOS com esse tratamento, não é" ?!, e indicou com os olhos o profissional ao seu lado.

Soaram risinhos sarcásticos, o caso estava esquentado pra valer e o redator indicado "numa sinuca".

-- "Epa, não me mete nessa... só te sugeri o Bar" !

-- "Quem é a "peça" ?!, perguntou o velho "da saudação tosca" ao jornalista apontado pelo jovem.

-- "O mais novo membro da Redação, entrou hoje, vai trabalhar na Reportagem externa... "morô" ?!

-- "ÉÉÉGUA"...!, exclamou o velho, como quem vê no firmamento a chegada do Juízo Final. (Esse "Égua" equivale ao carioca "Mas, que Merda"! e tem mil e uma utilidades.) Infelizmente, era o setor no qual atuava.

-- "E, então, estou esperando..."!, insistiu o "almofadinha".

-- "Esperando o quê, rapaz" ?!, retrucou o idoso, asperamente.

-- "As suas desculpas, ora essa... não gostei do tratamento" !

Outro sonoro "Ooohh" coletivo e um jornalista mais audacioso poz a mão espalmada à frente da boca e imitou a "corneta" do "Repórter ESSO", coqueluche das Rádios e da TV, com Eron Domingues. "Tá-tará-tarátarátarááá"...

A honra do vetusto repórter estava em jogo:

-- "Bunda-mole é BUNDA-MOLE"... e aí, vais me bater" ?!, arregaçando as mangas da camisa social desleixada.

O rapazote "murchou"... avermelhou mais do que jambeiro em flor e retirou-se precipitadamente da mesa. O pessoal soltou vários chistes incômodos sobre a futura relação de ambos, chefe e discípulo, atuando juntos no mesmo setor, por vezes na mesma matéria. Já há "Bolsa de apostas" e o "foca" inconveniente é "pule de 10", todos "carregam" no nome do ancião, que não é de levar desaforo para casa, nem é de 'guentar pressão.

Vencera a primeira batalha, porém a guerra estava longe do fim. Em todo o caso, embora o velho continue cumprimentando todos da mesma maneira, êle dá ligeira espiada, da porta do Bar para as mesas. Se o pirralho está, nem entra, pra não causar mal-estar entre os amigos.

-- "Esse "bunda-mole" ainda me paga, o que é dele 'tá guardado. Sua batata 'tá assando, o moleque não perde por esperar"!, pensa em voz alta a todo momento. Aguarde-se os próximos capítulos !

"NATO" AZEVEDO (em 12/nov. 2021, 20hs)