TERAPIA
Maria de Fatima Delfina de Moraes
Alguns amigos ao saber que fazia terapia reagiram das formas mais absurdas possíveis.
Algumas debocharam dizendo que eu precisava mesmo era “encher a cara pra ficar legal”. Outras me mandaram jogar tudo para o alto e ir para “um baile funk que sairia de lá boa”.
PORÉM, COM DEPRESSÃO NÃO SE BRINCA!
A depressão é uma doença que mata silenciosamente.
Alguns sinais são mau humor ou constante alteração de humor, pressão arterial alterada, insônia ou dormir além do habitual, falta de apetite, dores de cabeça constantes. Crises contínuas de choro sem motivo.
Quem me apoiou nesse momento foi minha filha e sua esposa.
Ela disse: mãe você está muito triste, calada, inquieta. Essa não é você. Onde anda a mulher guerreira que eu amo?
Vá para a terapia sim, vai fazer você se reconectar consigo e com o mundo.
Não dê ouvidos a quem te criticar. Seja pela terapia, seja por seus gastos médicos. Afinal, pergunte a eles se são eles que estão pagando suas contas; se quando você precisa de alguém que faça uma compra, uma faxina em sua casa, quando precisa de companhia para ir a um novo médico sobre o qual está hesitante, quando precisa de um carro para te levar ao médico. Enfim, alguém se apresentou?
Gostei quando você mandou todos para o alto e contratou um amigo para acompanhar você, para não ter que ficar ouvindo o que não queria quando precisava de alguém.
Após a segunda vacina, voltou integralmente para seus tratamentos.
Com todo o “cárcere privado” que você chamou a quarentena, continuou escrevendo, fazendo sua arte, voltou a estudar música. Sozinha com exercícios em casa perdeu vinte quilos.
Você publicou cinco livros ao longo da pandemia mãe! Isso é fantástico!
Quero saber mãe, se essas “amigas” têm a força e coragem que você teve e tem muito mais do que elas juntas.
Vá sim, fazer terapia.
Porque fazer terapia?
Você não procura um psicólogo ou psicanalista só quando “pira de vez”, pois nesse caso só internação.
Ao contrário, vá buscar ajuda antes que você faça como amigos meus, que tomaram remédios em doses absurdas, ou tentaram o suicídio quando todos saíram de casa, cortando os pulsos com facões e giletes.
Bem. Eu disse: eu não tenho de quem me esconder já que moro eu e Deus.
Porém quando passei dois dias e noites chorando sem parar, sabia que havia chegado ao limite.
Como assim?
Ansiedade, crises de insônia, medo com a Covid, dores intensas pela espodiloartrite anquilosante, enfrentar os efeitos das medicações que faço, similares a quimioterápicos (enjôos, perda dos cabelos, perda óssea em algumas partes do corpo, além da destruição de músculos de apoio e sustentação) e ninguém para conversar coisas de foro íntimo.
Sim. Porque por mais amigos que tenhamos, contamos nos dedos aqueles que emprestam o ombro e ouvidos e, somente depois, expressam suas opiniões.
Percebi que já estava entrando na fase “Maria vai com as outras” para não me aborrecer ou não ter muito o que explicar.
Mas porque fazer terapia?
- Para você se entender melhor com você mesmo e o mundo ao redor.
Não, o mundo não gira ao seu redor, nem de quem quer que seja, mas se você não pode impor a sua vontade tem de reaprender a conviver com o inusitado da ignorância alheia, sem se envolver, ou permitir que isso a desequilibre emocionalmente.
- Para colocar para fora o que você sente e pensa, porque tolerância tem limites. Uma hora ser “Maria vai com as outras” entorna o pote.
Outro dia minha mãe veio me perguntar se estava fazendo terapia para ser ríspida?
- Não mãe, só com quem não entende onde o limite dela termina e o meu começa.
Em nove meses de terapia fiz muita coisa que não buscava por simples acomodação.
Sim. Cada um de nós se olhar para dentro vai saber que antes da Covid você vivia acomodado.
Esse mês mudei radicalmente todo o meu tratamento por minha conta e risco.
Entrei para a hidroginástica, mantenho a terapia, e agora troquei toda a fisioterapia por um personal para fortalecimento da coluna e dos músculos.
Ah, é? E Como você está?
Estou confiante, porque resultados para quem tem espondiloartrite tem que surgir progressivamente e com cuidado.
E sim, vou publicar novo livro chamado “Delírios”.
Estou estudando música, violão em especial.
Parei de guardar coisas para ocasiões especiais.
A ocasião especial é o fato de estar viva, pensante, pulsante, criativa e independente.
Portanto, se há questões que estão te deixando deprimido, não hesite. Busque sim, a terapia.
Fortaleça o seu emocional, que é ainda mais importante do que ficar sarado e com um monte de músculos.
A essência do ser humano está em “ser”, não se trata de “ter” e nada o impulsionará melhor ou além se você não cuida de sua saúde mental.
Todas as áreas de sua vida se abrem para o novo, para a criação.
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