Pinto

08.11.21

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Fui incumbido de fazer um churrasco para as irmãs de minha mulher em um domingo na casa de uma delas em Porto Alegre. Não foi fácil, pois como são gaúchas, entendem do riscado. Era eu o único homem no evento. Mas, passei no teste com louvor. A que fiscalizou a execução, disse depois de satisfeita que fora o melhor churrasco da sua vida. Talvez para me agradar. Foi gentil.

Bem, depois dos comes e bebes, tiraram os pratos rapidamente e a dona da casa colocou um baralho na mesa para um joguinho de cartas - é o seu costume, são de origem alemã e jogam sempre após o almoço. E para vencer a qualquer custo, parecendo que estão em uma copa do mundo do carteado. Brigam, discutem, enfim é engraçado assistir a disputa.

-Vamos jogar canastra? - disse embaralhando as cartas.

Teria que fazer dupla com uma delas, pois éramos eu, minha mulher e as duas irmãs. Não sou bom de jogos de cartas, me distraio facilmente e gosto de brincar, me divertir, ao invés de jogar como elas, que contam as cartas, sabem o que cada um tem na mão - são profissionais. E quando perdem, ficam de mau humor, discutem com o parceiro, enfim, detestam perder.

-Olha, sou ruim de canastra, tá - pontuei, já me eximindo da responsabilidade do resultado que viria a ocorrer: perder o jogo e ser execrado por minha companheira.

-Não tem problema, você faz dupla com ela, que é sortuda e sempre ganha, tá Fernandinho. Vamos dar uma canja pra ti - falou minha mulher, apontando a irmã do melhor churrasco da sua vida.

Começamos o jogo, e fomos ganhando mão a mão. A outra dupla, não se acertava e discutiam a cada perda. Era hilária a discussão, falavam em alemão, bravas e inconformadas. Eu nada entendia, mas pela entonação da sua fala, xingavam-se.

-Muito bem Fernadinho, foi bem no churrasco e agora também no jogo - comentou a minha dupla, sorridente e feliz pela vitória até aquele momento, vendo a discussão das outras duas, atiçando ainda mais o jogo.

-Sorte de principiante - respondi, o que as oponentes confirmam:

-É sempre assim!

Em uma das rodadas, jogávamos quietos e compenetrados e era a minha vez. Comprei uma carta do baralho, e de supetão, minha parceira pergunta:

-Tens pinto?

-Pinto? Claro que tenho! - atônito e surpreso, respondi de pronto a sua inesperada questão.

-Não é esse! - respondeu ela gargalhando acompanhada das irmãs, que não pararam de rir vendo a minha cara de questão estupefato.

Eu ria também, sem entender o que seria o pinto no jogo. Questionei-a:

-Então, qual pinto você quer? - mantendo o clima hilário da partida.

Minha mulher começou a explicar, depois de chorar de tanto rir da minha resposta e feições:

-Pinto é o coringa. Quando éramos crianças, aprendemos a jogar com um baralho que tinha desenhado um pintinho amarelinho na carta do coringa. Por isso que falamos pinto - disse sorridente.

-Ah, entendi. Então, tenho três pintos na mão, fora o meu - continuando com a brincadeira.

-O seu é o morto! - respondeu minha mulher fazendo piada, provocando ainda mais gargalhadas no grupo. Estava muito engraçado e descontraído o carteado com as irmãs.

De qualquer forma, com ou sem pinto, ganhamos a partida de lavada.

Os gaúchos tem cada expressão?

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 09/11/2021
Reeditado em 14/11/2021
Código do texto: T7381845
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