BAILE DA TERCEIRA IDADE
Conto de Gustavo do Carmo
Conheceram-se. Conversaram. Dançaram coladinhos ao som de Besame Mucho. Beijaram-se. Apaixonaram-se. Brigaram por ciúmes. Fizeram as pazes. Tudo no mesmo baile da terceira idade. Iniciaram, a partir daí, uma relação que foi oficializada, cinco anos depois, em um casamento, que durou cinquenta anos, três filhos, quatro netos e dois pequenos bisnetos.
Alcebíades e Ademilde tinham trinta e vinte e cinco anos, respectivamente, quando se conheceram. Eram muito tímidos. Como odiavam boate jovem, preferiram se divertir em um baile da terceira idade. E assim se conheceram. Encerraram a noite com o Samba-Enredo da União da Ilha de 1979.
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As bodas de ouro foram comemoradas a dois em uma boate jovem, daquelas bem escuras, com música eletrônica altíssima bem bate-estaca, as luzes bem piscantes que chegavam a causar epilepsia e aquelas fumaças aromatizantes bem enjoativas.
Os cinquenta anos de casamento de Alcebíades e Ademilde acabaram aí. Aos oitenta e cinco anos, ele teve um enfarte fulminante provocado pela vibração do som e ela, aos oitenta, tropeçou no degrau escuro quando foi socorrê-lo. Caiu, fraturou a bacia e morreu na cirurgia. Viveram juntos para sempre. E tudo começou num baile da terceira idade. Quando eram jovens.