Conto das terças-feiras – Caindo no conto da maconha fraudada

Gilberto Carvalho Pereira, Fortaleza, CE, 26 de outubro de 2021.

Londres vivia uma onda de atentados, era 7 de julho de 2005. Naquela quinta-feira, que transcorria tranquila, uma série de explosões atingiram o sistema de transporte público da capital britânica, resultado macabro: 52 mortes e cerca de 700 pessoas feridas foram confirmadas. O Reino Unido estava sediando o 31º encontro do G8, os oito Países mais ricos do planeta.

Em 15 agosto de 2005, um mês depois dos atentados, quatro jovens brasileiros (João, Pedro, Larissa e Alfredo) desembarcavam em Londres à convite do governo britânico, para prestação de serviços em uma instituição que atua na área de educação. Ao aceitar o convite de trabalho, os jovens teriam que trabalhar seis dias por semana e em troca, teriam salário, residência e curso em uma universidade.

Inicialmente, uma parte do grupo foi alocada em um hotel três estrelas, localizado em uma das regiões mais movimentadas de Londres, e muito visitada por turistas de todas as partes do mundo. Dois dias para passear e conhecer a cidade antes do início dos trabalhos. Entretanto, João e Alfredo, os mais “espertos” do grupo, se hospedaram em um Hostel, com áreas comuns compartilhadas, que proporcionava troca de experiências entre hóspedes, favorecendo o intercâmbio cultural. O que mais estranhava ao grupo era que o albergue utilizava o porão de um antigo imóvel. Mas isso não era problema para os dois amigos, sobrariam alguns pounds, por ser essa categoria de hospedagem muito mais barata que um hotel.

Já instalados, o grupo decidiu fazer um tour pela cidade para conhecer os pontos turísticos de Londres. No meio da tarde, foram até a um bairro alternativo, Camden Town, ambiente descontraído, despojado e informal, lhe proporcionando fama internacional de ser um bairro alternativo. Ao caminharem pela Camden High Street, próximo ao Camden Market, local conhecido como “quase um camelódromo”, os jovens foram abordados por vendedores de drogas que anunciavam maconha, haxixe, e outros entorpecentes. Apenas Alfredo se dispôs a adquirir uma trouxinha e argumentou:

— Estou feliz, vou fumar um baseado em Londres!

A resposta do grupo foi imediata:

— Não faça isso, se você for abordado pela polícia e eles pegarem, é deportação na certa.

Alfredo não se importou com a alegação dos amigos, comprou 10 pounds, da droga, guardando-a em sua pochete. Sentindo-se discriminado, afastou-se do grupo. Os amigos continuaram o passeio de reconhecimento dos lugares famosos da capital londrina. Voltaram cedo, no dia seguinte conheceriam outros locais interessantes e retornariam para preparar suas malas e seguir para o destino a que foram designado pelo governo londrino, onde ficariam por um ano.

Alfredo e João, já pela manhã, fizeram o check out do Hostel, deixando suas bagagens no luggage locker (guarda volumes) e foram passear pela cidade. No início da tarde, voltaram ao local para retirá-las, mas foram surpreendidos por policiais que deram ordem de prisão aos dois. Na noite anterior um turista canadense fora esfaqueado em frente ao hotel e como os brasileiros haviam realizado o check out de manhã bem cedo, o recepcionista informou aos policiais o fato, e os dois foram considerados “terroristas” e suspeitos pelo crime e levados à delegacia. Toda a polícia londrina estava atenta a qualquer acontecimento anormal na cidade, uma consequência dos atentados de 7 julho.

Na delegacia, os policiais fizeram a abertura das malas para tentarem encontrar alguma arma ou algo suspeito, mas não acharam nada. Pediram então para verificar a pochete do Alfredo, ao abri-la, encontraram uma trouxinha que dentro parecia entorpecente. Os policiais ficaram surpresos com achado e perguntaram:

— O que é isso?

—. To make a tea, - Respondeu o jovem espertamente, já que o seu inglês era fraquíssimo.

O policial não acreditando em sua versão, abriu a trouxinha, cheirou e percebeu que não se tratava de droga, só folhas maceradas. Mesmo assim, Alfredo e João foram encaminhados até a uma cela na delegacia tendo que usar roupas de presidiários – Blusão, calça de moletom e sapatilha, até que o crime fosse investigado melhor. Vinte e quatro horas depois, os dois formam liberados, quando descobriram o autor do atentado ao canadense. O “esperto” fora enganado e salvo por um traficante em plena luz do dia, em Londres.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 26/10/2021
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