SONHOS
SONHOS
Você conhecia meus sonhos... Pois, eu lh’os relatava: os que eram devaneios, desejos, aspirações e outros que me vinham à noite enquanto dormia.
Ontem sonhei que encontrava um quartzo de cristal fumê, a pedra das realizações. Achava-o na calçada diante do bistrô, onde no passado, enquanto dividíamos um vinho do porto de antiga safra, falávamos das nossas esperanças.
Fui à procura da casa onde tantas vezes adentramos; sentados a uma mesa junto à janela víamos a noite passar e erguíamos nossas taças num brinde silencioso.
O bistrô não existe mais; o edifício foi abandonado e me entristeço vendo o desgaste que lhe fez o tempo.
Procuro na calçada empoeirada o objeto do meu sonho. Esse ato parece loucura, mas sempre teimei em acreditar no subjetivo, confiando no fantástico, no extraordinário. (Você ria-se de mim e das minhas crenças inexplicáveis). Verdade é que o sonho me esclareceu a necessidade de colocar os meus pés no chão. As virtudes daquele cristal fumê: capacidade de concretização, neutralizar vibrações negativas, limpeza da aura, trazer boa sorte e fortalecer os laços da amizade, são qualidades das quais preciso agora.
Não encontrando a pedra do meu sonho, retrocedo pelas ruas quietas que foram, um dia, palco da caminhada de dois amantes, descomprometidos com o legítimo e o razoável.
Distraio-me pensando na “teoria dos sonhos compartilhados”.
Segundo LaBerge o compartilhamento dos sonhos seria o enredo dos sonhos e não o sonho em si.
Sabe-se lá se alguém teve um sonho semelhante ao meu com um cristal fumê, saiu a procura-lo, encontrando-o antes da minha própria busca...?
Mas se existem cristais fumê perdidos neste mundo, não perco a esperança; eu ainda encontrarei o que a mim foi destinado.
Enquanto espero, escrevo-lhe para relembrar o que tivemos um dia. Não preciso do cristal para fortalecer os laços que compartilhamos, que tempo e distância não deixaram morrer.