O louco 2

O Anderson e o Pedro são uns grandissíssimos filhos da puta. Conseguiram acabar com minha vida. Ou melhor, com aquela vida que levava. Estava tudo nos conformes. Emprego, esposa, filhos. Havia comprado um apartamento não fazia muito. São amigos de infância. O Anderson é um asqueroso. Bebe o dia inteiro. É a única coisa que sabe fazer. E falar de mulher. Nunca trabalhou na vida. Mas é daqueles amigos de fé. Pra tudo. São 30 anos que conheço esse filho da puta. O Pedro é mais comedido. Metido à comunista. Estudou Serviço Social. Mas ultimamente tenho achado ele muito coxinha. Passou numa seleção pra tenente do exército e virou um bosta. Um comunista no exército. Esse Brasil está realmente virado. Também bebe o dia inteiro. Quiseram me fazer uma surpresa. Contrataram o Vinícius e o Tunico, que são amigos do Pedro, para simular meu sequestro. A ideia era anunciar na saída do trabalho. Ninguém merece ser sequestrado na saída do trabalho. Desci o elevador com a Carlinha, ela falava sem parar. Estava feliz. Na saída, nos despedimos com abraço. Sorri. A vida pode ser boa. O sequestro era para me levar ao Pedrine, ali na Cidade Baixa, onde estariam meus amigos pra uma boa festa. 40 anos. Que grata surpresa. A CB era meu chão. Bar Opinião, Insano, Bambooletras. Segundo eles, não era pra ter violência. Mas o Vinicius ficou nervoso. É violento por natureza. Trabalhou a vida inteira como guarda de supermercado. Vive armado, mas nunca matou ninguém. E eu sou um medroso. Nunca estive em uma briga. Uma vez, na escola, um amigo me deu um soco na boca. Não reagi. Chorei. De vergonha. Nem nunca havia sido sequer assaltado. Isso que moro em Porto Alegre. Já se vão 15 anos nessa babilônia. Carros, asfalto. O restante dos convidados não sabiam dessa filha da putice. Sabiam que eu não sabia da festa. Mas não sabiam do suposto sequestro. Ficaram com pena de mim. O aniversariante cagado e mijado. Acordei no hospital. Dois dias depois. Segundo o plantonista, tive um mal súbito seguido de convulsão. Um misto de vergonha e medo. Tudo muito intenso. Um trauma. Vocês já foram sequestrado? Eu já. Ou psudo-sequestrado. Acordei sem saber onde estava. Não lembrava de nada. Reconheci minha esposa. Ela me olhava um olhar de mãe. Com pena. Tive náusea. Morro de medo de hospital. Estava com um cano no nariz. Outro no tico. Mijava por um cano e cagava nas fraudas.

- Como tu está, meu amor?

Não respondi. Fechei os olhos e não pensei em nada. Como será que estou? Isso é pergunta que se faça? Estou fodido.