Conto das terças-feiras – Pássaros em liberdade
Gilberto Carvalho Pereira, Fortaleza, CE, 12 de outubro de 2021.
Airton mora em um sítio de 3 ha, é seu recanto de morada, ganha-pão e lazer. Nele tem plantado diversas variedades de frutas, uma horta, flores e bastante grama. Foi herança recebida de seu pai, e faz tudo para preservá-lo como recebera. Uma casa grande e confortável, piscina, churrasqueira, quadra de voleibol e balanços distribuídos nos galhos de duas frondosas mangueiras, para a diversão dos netos ainda pequenos.
Alguns amigos sempre o visitam aos domingos e certos feriados. A grande atração é o enorme viveiro, disposto em lugar estratégico, abrigado da chuva e do sol intenso. Também uma herança do pai que, quando vivo, tinha uma verdadeira paixão em criar pássaros, passarinhos da fauna local e exóticos. Aos sábados sempre saía para a feira à cata de exemplares que ele ainda não tinha. Nunca se preocupou em contar quantas e quais variedades de pássaros existem em seu viveiro, mas nunca negligenciou sobre a alimentação, os cuidados veterinários e a limpeza do local de moradia das pequenas aves. Recomendação mais exigida do senhor Nonô, pai de Airton, nenhum estranho entrava no enorme viveiro, só ele e o caseiro, que faziam a limpeza do local, trocava a água e os alimentava.
Ao redor do viveiro foi construída uma cerca para ninguém chegar perto da tela de proteção. A reprodução das diferentes variedades acontece em árvores plantadas dentro do aviário, para permitir a construção de ninhos. Todas as tarefas aprendera com seu pai, que o obrigava a acompanhá-lo durante suas visitas diárias ao seu brinquedo de estimação.
Após a morte de seu genitor, a obrigação de cuidar do sítio e dos bichinhos tornara-se o seu trabalho habitual, seu sustento tirava da venda das frutas, flores e verduras. Todos aqueles afazeres eram realizados com alegria, só não se acostumara com o tratamento que deveria ser dado aos pássaros, era cansativo e não rendia nada. Seu pai nunca permitia que uma só ave fosse dada ou vendida, só saiam do cativeiro, por morte, quando então eram enterrados em espaço apropriado. Seus dois filhos maiores, não o acompanhavam no trabalho de cuidar dos pássaros, não queria vê-los envolvidos em uma atividade que não gostava de executar.
Certo dia seu filho menor, Adalberto, de sete anos de idade, perguntou por que os pássaros estavam presos:
— Pai, por que você mantém os coitadinhos presos?
— Esse era o desejo de seu avô, ele amava essas aves!
— Como amava, se ele os mantinha presos? – Perguntou o menino intrigado.
— Não sei responder, era o jeito dele gostar, dava comida, água, tudo pertinho deles.
— Mas, pai, a natureza deles é voar! Explicou o garoto.
E a criança começou a explicar para o pai sobre o que aprendera na escola:
— Nenhum animal deve ficar preso. É por isso que alguns desses animaizinhos estão em extinção. Isso vem perturbando o meio ambiente, eles são espalhadores de sementes. Se não voarem por aí, comerem suas frutas preferidas e as despejarem no solo, algumas plantas podem também entrar em extinção.
O pai ouvia tudo aquilo pensativo e calado. Já estava quase anoitecendo e os dois voltaram para casa. O menino alegre porque tinha certeza de que despertara no pai, uma semente de amor aos pássaros e à natureza. Ao deitar-se, Airton voltou a pensar sobre o que o filho o havia falado, e tomou uma resolução:
— Amanhã vou atender ao pedido de meu filho, o seu avô vai ficar orgulhoso dele.
Logo cedo acordou e foi ao quarto do filho, pedir que o acompanhasse. Foi um pedido estranho para o garoto, pois seu pai nunca o chamara tão cedo assim. Ao lembrar a conversa do dia anterior, sorriu e de pronto ficou em pé, arrumou-se e acompanhou o pai. Foram direto para o grande viveiro de pássaros. Seu pai abriu a porta, entrou e deslocou as seis telas, três de cada lado, que prendiam as aves. Sem assustá-las passou próximos às aberturas e acenou para o alto, fazendo com que muitas delas voassem e ganhassem o espaço livre. Outras ficaram, talvez porque ainda estavam chocando seus ovos.
— Não se preocupe aos poucos todas vão tomar o rumo certo – falou o pai para o filho, que olhava aquele espetáculo com satisfação.
Os dias se passaram e nem todas as aves foram embora, algumas até voltavam para comer e beber, ações que faziam diariamente e causavam muitas alegrias a Airton e ao filho.