Noturno
O relógio. Tic-tac. Madrugada avançada. Sentado na poltrona. A luz, difusa, entrevia-se pela janela semi-aberta. Porta abre. Silhueta feminina. Perfume misturado a álcool.
– Ainda acordado?
Displicente, deita-se vestida.
Uma arma é desarmada. Sem coragem. Levanta-se e fecha a porta. Deita-se, calado e submisso, ao lado do corpo da mulher...
Ardente
Fumaça, gritos, correria. Casebres queimam. Os estreitos corredores do labirinto são incerta rota de fuga. Objetos são carregados às costas. Formigueiro. À distância segura podem observar melhor.
– Meu bebê! Meu bebê? – Uma trabalhadora tardia reclama a posse.
Dos escombros, no dia seguinte, muito carvão, nenhuma esperança...
Vitória
A raquete escapa-lhe e surra-lhe o próprio rosto. Uma exclamação vem da multidão. Depois, espalham-se risos. A imagem é repetida pelos telões. Sentado, vendo a própria figura, vai à forra. Set. Set. Set.
Aplaudido em glória.
Na Tv exibem a vitória em 10 segundos. A raquetada ganha 20.
Exigente
Queria aquele olhar. Beiços vermelhos em carne abundante. Cabelo curto, volumoso, cacheado. Um olhar constrito. Olhos verdes. O nariz é volumoso. Atrapalha o conjunto. Olha de novo. Tenta apreciar os lábios. O nariz rouba a cena. Parece descomunal. Cirurgia? Lança fora a foto. Telefona. Fim de romance.
Solução
Não consegue dormir. O ronco atrapalha-a pela enésima vez. Senta-se à cabeceira. Acende o abajur e um cigarro. Sossegado, nem repara e sonha profundamente. Um travesseiro. Uma idéia – sufocar. Lembra que há filhos, sogra, polícia. Tem outra saída. Duas semanas depois ele se espanta diante da notificação oficial: divórcio.
Opção
A enorme barriga ao lado espera um filho seu.
Sala. Consultório. Grávidas e crianças de colo. Uma vomita no pai em frente.
Pensa nas contas. Noites não dormidas. No filho rebelde com notas baixas, saídas noturnas, envolvendo-se com drogas. Levanta-se.
– Aonde vai?
– Comprar cigarro.
Jamais voltou.