O DILEMA DE SENTIR PENA

Que situação embaraçosa minha gente esta que vou lhes contar.

Um rapaz perto de casa. Parecia arrastar seus pés descalços sob o asfalto quente que passava a frente de minha casa. Seu rosto parecia sofrer uma dor terrível. porque andava claudicante, aparentemente com dor nos pés.

De repente chamaram a polícia via 190. Saíram da viatura três policiais e logo o induziram com o comando de praxe. Mãos na cabeça, documentos e palavras de interrogação. Depois de cinco minutos o deixaram ir sem que o mesmo aparentasse alguma ameaça. E desajeitadamente andando se foi. Ora, alguém onde moro, vendo-o como potencial suspeito. Resolvera chamar o contingente policial. Que fez seu papel de praxe. Conclusão o rapaz em torno de 25 anos. Voltou de onde fora parado pelos policiais. E com a mesma dificuldade de andar. Ficou em frente a outra casa. E lá ficou remoendo sua tortura. Detalhe: De todos os transeuntes que passavam por ele. Nenhum o quis ajudar de livre e espontânea vontade . E ele também nada pedia. Magro com um short até a cintura e uma camisa surrada com botões na frente e uma espécie de sacolete à tira colo, onde provavelmente tinha seus parcos documentos. Que os guardas revistaram para saber se havia drogas e ou alguma arma branca. Não foi o caso. Feição muito abatida. Parecia nem ter comido, nem ter tomado água. Ficara ali acomodado junto a uma casa que havia à frente uma pequena árvore. De repente já por volta das seis da tarde. Quando o movimento ao entorno é menor. Cai uma torrencial chuva. Ele muito que devagar com a dor nos pés. Tentou se acomodar num pequeno vão de um portão da casa vizinha. E lá sentou cabisbaixo. Mesmo assim se molhara todo e com isso tudo tirara a camisa. Onde refletia um corpo franzino, magro, de dar dó. Depois da chuva, já por volta das oito da noite. O cabelo molhado e desgrenhado começou a esfregar nele sua camisa também parcialmente já molhada. Depois atravessou a rua com dificuldade no andar. Sentou junto da pequena árvore que era ornada por um pequeno círculo de cimento e esperou a camisa secar, balançando-a em seus braços. Quando então começa a vesti-la ainda úmida. Novamente a chuva volta. E ele volta pro cubículo de onde estava e lá ficou sentado esperando estiar a chuva mirando seu olhar perdido de vez em quando pra cima como que pedindo um fio de esperança entre o inalcançável céu e suas lágrimas enjeitadas pelo sereno. Isso já por volta das dez da noite. Me deu um dó e uma piedade tão grande que meu coração apertou no peito. Aí as vozes vêm dissonantes. “Olha não vai ajudar que as pessoas não vão gostar” ...” Não vai ajudar porque ele virá todo dia te pedir coisas”. “ Não vai ajudar porque tu não conheces e não sabes porque ele tá passando por isso”. "Vais colocar outras pessoas em risco" E blá, blá, blá! e Etc...etc....etc! Sabe-se lá por qual etapa do destino ele está passando e eu muito menos por estar vendo esta cena incubada nos meus olhos atentos como granadas prestes a explodir.

E a consciência cobra e corrói e nada sobra. Um par de sapato, Uma blusa, um agasalho, um pouco de comida. Como tudo poderia mudar por tão pouco matiz. Confesso que me sentiria melhor fazendo isso. Entretanto uma voz silenciosa me fez refletir. Você quer ajudar, então pense: Se um suicida quer se matar por milhares de motivo e não consegue e ou não tem coragem e você se apieda dele. E pergunta se você pode ajudar? E Ele diz. Sim. E você quase que ingenuamente pergunta. -Como? de que maneira? Encorajando-o e incitando a pular de um prédio por exemplo para lhes tirar todo o sofrimento que o atrapalha de ser feliz. E por querer ajudar a fazer isso para o bem dele. (Como bem frisou uma dona que trabalhou num ramo funerário, que já teve que cuidar de corpos de suicidas com sorrisos no rosto). Sim e nisso de "sentir pena" você diz. Eu o ajudo sim. E quando você finalmente o encorajou a se jogar num ato consumado. Você acabou de se tornar indiretamente um homicida. Um criminoso que pensava estar fazendo um bem, quando na verdade estava cometendo um mal, quiçá, irreversível a si mesmo e a ele.

Antes de fechar este conto, já por volta de meia-noite quase. O rapaz ainda continua encolhido no frio da rua e no vão da casa parecendo um ser preso por fora das grades . E eu como diz William Shakespeare; "Ó doçura da vida: Agonizar a toda a hora sob a pena da morte, em vez de morrer de um só golpe".

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 28/09/2021
Reeditado em 28/09/2021
Código do texto: T7352543
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