Voz maligna
Tudo aconteceu de repente. O encontro, o beijo e o sorriso. Não era fácil não ser ela e tendo que ser quem ela não era só para agradar. Mas era seu desejo agradar o seu amor de todas as formas. Um dia ela tentou expulsar a voz que morava dentro dela. Ele gritou mais alto. Passada uma semana, ela tentou falar de novo e de novo. Mas a imposição pela voz mais alta, mais firme, mais grossa refletia em um grito que espantava, assustava, amedrontava. Uma voz não era, nem nunca foi apenas uma voz. Era a voz do homem que se impunha à voz suave da mulher. E cada a dia, ela falava menos. Assim, a sua voz fora desaparecendo. Até que um dia, sumiu em sua totalidade. Ela nunca mais falou.
Barbara Bittencourt
Blumenau em 16/02/2021