VILA DA VERGONHA

Nesta vila tudo acontece, não foi à toa que foi baptizada pelo nome de vila da vergonha, devido às várias situações vergonhosas que ocorrem neste centro urbano bem estruturado, com construções modernas e pessoas altamente ricas. Porém o contraste de desigualdade social vai-se notando a medida que se desce para a periferia, onde a pobreza é extrema, os bairros são desestruturados, sem vias de acesso, nem água potável. A população da vila da vergonha percorre longas distâncias até chegar ao rio para cartar água, a mesma água serve para beber, lavar roupa e tomar banho. Na periferia as casas são feitas de capim e oferecem pouca segurança para os residentes.

No meio de tanta pobreza contrastada com um punhado de gente bastante rica, a prostituição torna-se uma das vias para algumas mulheres safarem-se da pobreza e o banditismo também por parte dos homens que em plena luz do dia assaltam bens de cidadãos indefesos para garantirem o seu sustento e das suas famílias.

Os prostíbulos estão espalhados por toda vila, as garotas matako pandja desfilam com as suas saias curtas, os seus lábios bem pintados a vermelho, aliciando homens de várias idades e de diferentes níveis sociais que por lá passam.

As características fortes e inegáveis nesta vila são o adultério, o assédio sexual, a superstição e a corrupção nas instituições do Estado e privadas. É notório encontrar mulheres muito bem casadas e com filhos já crescidos a serem submissas a escândalos sexuais pelos seus chefes simplesmente para poderem ascender a um cargo de relevância nas instituições onde trabalham. É também notório encontrar homens que todos os dias engraxam os sapatos dos seus chefes, alguns até passam a vida a fazer fofocas, falando mal dos seus colegas. Outros ainda percorrem longas distâncias procurando curandeiros e medicamentos tradicionais, tudo para ascenderem ao poder, ocupando um cargo de chefia nas suas instituições de trabalho, mesmo sabendo que não têm competências para tal cargo.

Os cargos de chefia nas instituições do Estado são ocupados por gente incompetente e as indicações ou nomeações são feitas com base na confiança e no nepotismo. A competência perdeu para a incompetência e como resultado disso, verificam-se chefes arrogantes que ao invés de solucionarem os problemas pelos quais apoquentam os funcionários, criam situações de desconforto neles, atendendo-os mal sem o mínimo de respeito, arquivando os seus processos ou documentos nas gavetas até expirarem o prazo de validade. Quando são questionados, limitam-se a berrar, ameaçando-os de não renovarem os seus contratos de emprego, ou mesmo de sofrerem um processo disciplinar. A corrupção está presente nos gabinetes e os chefes são os protagonistas, cobram somas avultadas de dinheiro para quem se candidata para uma vaga de emprego, quem pretende ser nomeado ou mudar de carreira. Tudo funciona com base no dinheiro e o azar vai para os carenciados que perdem vagas de emprego por não terem verbas suficientes para poderem subornar os chefes, embora tendo competências impecáveis.

As pessoas passam a vida a perseguirem-se uns aos outros ao invés de cuidarem das suas próprias vidas e das suas famílias. Querem a todo custo saber o que um ou outro faz e deixou de fazer, as fofocas estão em todo canto.

Já não há decência nas pessoas, homens e mulheres da vila da vergonha não se respeitam e não valorizam as suas famílias. Os acontecimentos abaixo ilustram com exactidão actos de tamanha vergonha que ocorrem dia-a-dia na vila da vergonha.

Primeiro acontecimento

Certo dia um senhor de nome Djerato, funcionário público, casado e com filhos já crescidos decidiu sair com os amigos. Juntos foram beber num bar que se encontrava distante da vila, naquele bar existiam quartos onde moravam prostitutas estrangeiras e que lá praticavam o seu negócio de venda de sexo. Depois de terem consumido duas caixas de cerveja, os amigos do senhor Djerato já embriagados, não podiam mais continuar, despediram-se e foram-se embora. Djerato, bêbado e mulherengo que era, continuou a beber até acabar todo o dinheiro que trouxera de casa.

Como não podia regressar à sua casa sem antes se envolver com uma prostituta, decidiu procurar uma num dos quartos do bar, acertaram as contas, sendo que Djerato prometeu pagar depois de o acto ser consumado, embora sabendo que já não tinha dinheiro para pagá-la.

Envolveram-se pala primeira vez, partiram para a segunda e finalizaram na terceira. Chegado o momento de acertar as contas, Djerato começou a contar histórias, disse para a prostituta que tinha sido assaltado no bar e que não estava a achar a sua carteira. A prostituta não quis saber do que acontecera com ele, o que ela queria era somente o seu dinheiro conforme o combinado. Entraram em briga muito forte, sendo que a prostituta teve que pedir o auxílio das suas companheiras para espancar o senhor Djerato, que já não tinha dinheiro para pagá-la.

Elas pegaram numa garrafa de cerveja e partiram sobre a cabeça do Djerato, que ficou todo ensanguentado. Para ir ao hospital teve que ligar para os seus amigos, que de imediato o acompanharam ao posto médico para receber tratamento.

A notícia espalhou-se por toda vila e chegou aos ouvidos da sua esposa e dos seus filhos. Quando chegou à sua casa encontrou a sua mala já arrumada, pediu mil desculpas e prometeu nunca mais repetir o acto, porém sem sucesso porque a sua esposa já estava decidida a separar-se dele. Todo envergonhado, não teve outra opção senão abandonar a casa.

Segundo acontecimento

Havia uma mulher chamada Nhansalazi, estava muito bem casada com um senhor trabalhador da administração. Ela era desempregada, por isso passava a maior parte do tempo em casa cuidando de tudo enquanto o marido ia ao serviço. Não lhe faltava nada em casa, alimentos, dinheiro, amor e carinho do seu marido e tudo o que uma mulher desejaria ter num lar. Mas a ambição e o desejo de querer mais falaram mais alto. Nhansalazi gostava de homens ricos e os apreciava cada vez que passassem pela rua da sua casa, dentro de suas viaturas de luxo. Apesar de o marido proporcionar-lhe uma vida cómoda, ela não se sentia realizada por completo, por isso caiu na tentação de um ricaço da vila, um tal kwacheiro que passava pela rua da sua casa, enquanto ela se preparava para ir ao mercado.

Ao ver aquela mulher linda e bem trajada, o kwacheiro reduziu a velocidade do carro e baixou os vidros, cumprimentou-a e ofereceu-a boleia. Ela sem rodeios aceitou. Durante a trajectória até o mercado conversaram muito, sendo que Nhanslazi ficou impressionada com o kwacheiro e trocaram de números telefónicos.

Os dois combinaram que se ligariam quando a mulher fosse a primeira a sinalizar, caso contrário não estabeleceriam contacto. E foi exactamente isso que aconteceu. Quando o marido de Nhansalazi fosse ao serviço, ela ficava a ligar para o kwacheiro, conversavam bastante e falavam sobre vários assuntos. O kwacheiro sempre fazia questão de iludi-la com dinheiro, prometia comprar bens valiosos para ela e depositar bastante dinheiro na sua conta.

As conversas eram frequentes até que um dia Nhansalazi decidiu convidar o seu amigo para a sua casa. Esperou que o marido fosse ao serviço para fazer a festa com o kwacheiro. O seu marido trabalhava das sete até às quinze horas e meia, e passava as refeições no local do trabalho. Por vezes, mediante a natureza do trabalho, demorava até no máximo vinte horas. Aproveitando-se dessa situação, Nhansalazi chamou o kwacheiro naquele período em que o marido não estava em casa e fizeram a festa.

O seu marido confiava bastante nela, por isso em nenhum momento passou pela sua cabeça que sua mulher seria capaz de o trair. Continuava a esbanjar muito amor e carinho por ela, fazendo o máximo para que ela ficasse bem confortável em casa.

Sempre que fosse ao serviço, sua esposa trazia o kwacheiro em casa e os vizinhos viam, mas não tinham a coragem de informar o marido sobre o que sua esposa estava fazendo na sua ausência. Tal facto era repetitivo até que um dia um vizinho tomou a coragem de informar ao marido de Nhansalazi sobre o seu comportamento. O marido não quis acreditar no que ouviu do seu vizinho porque confiava tanto na sua mulher, mas quis confirmar para apurar a veracidade dos factos.

Como sempre, despediu a esposa e foi ao serviço. Por sua vez, ela ficou a ligar para o kwacheiro para mais um encontro. O kwacheiro chegou e começaram a fazer a festa, pensando que o marido voltaria à casa as quinze e meia como sempre. Mas desta vez aconteceu o contrário, o marido pediu despensa no serviço, alegando não estar a sentir-se bem e voltou cedo à casa. Quando lá chegou, encontrou um carro de luxo estacionado no seu quintal, entrou em sua casa, foi em direcção ao seu quarto, abriu a porta e encontrou a esposa e o kwacheiro pelados em cima da sua cama.

Diante da situação que encontrara, apesar de estar muito nervoso e em choque, respirou fundo e mandou que os dois vestissem suas roupas. Cumprimentou o kwacheiro e pediu que ele se retirasse da sua casa. Logo após o kwacheiro ter abandonado a casa, arrumou a mala da esposa e expulsou-a.

Longe do marido e sem emprego, Nhansalazi pediu auxílio ao kwacheiro, este por sua vez, recusou-se a ajudá-la e ordenou-a que não o procurasse mais e que apagasse todos os seus contactos telefónicos.

Terceiro acontecimento

O senhor presidente da urbe é muito mulherengo, casado e pai de dois filhos. Diante da tamanha pobreza que o seu povo vive, nada faz para o bem-estar dos cidadãos. Gasta somas avultadas de dinheiro para fins pessoais, esquecendo-se do seu povo, aquele que o elegeu para estar no poder.

Passa a maior parte do tempo divertindo-se com as suas funcionárias. Passam horas trancados no seu gabinete perpetrando cenas escandalosas de tamanha vergonha. O senhor presidente já se envolveu com quase a metade das mulheres da sua instituição.

Quando se lança um concurso de emprego, a ferramenta que ele usa para lograr os seus intentos com as mulheres é a promessa da assinatura de um contrato de emprego, mas para poder assinar esse contrato é necessário que antes, as mulheres se envolvam sexualmente com ele.

Certo dia, apareceu uma moça lindíssima no seu gabinete para pedir emprego. Rabo de saia que era, ao ver aquela beleza formidável da moça não resistiu. Prometeu dar-lhe emprego a condição que ela dormisse com ele. A menina, já tinha concluído o ensino médio e ficou muito tempo a deambular pelas ruas sem emprego, rumou para a prostituição onde trabalhou como vendedora de sexo durante cinco anos. Conheceu vários homens, envolveu-se com eles, por vezes sem camisinha, somente para conseguir dinheiro suficiente para sustentar-se e sustentar os seus irmãos, que estavam sob os seus cuidados porque perderam os seus pais muito cedo.

Andou tanto com diferentes homens, conheceu o mundo graças a prostituição, mas pagou carro por isso. Numa das suas andanças acabou por contrair o vírus do HIV-SIDA.

Sabendo da sua situação de seropositividade já não podia mais continuar com a vida que levava, pois sabia que poderia agravar ainda mais a sua situação de saúde. Decidiu parar de prostituir e tratar da doença, bem como procurar por um emprego que pudesse ajudá-la a manter o ritmo normal da sua vida.

Quando recebeu a proposta do senhor presidente, a menina estava super aflita na busca pelo emprego, não fez mais nada senão aceitá-la.

O senhor presidente ficou muito satisfeito, preparou todas as condições para que os dois se encontrassem e dormissem juntos. Foram encontrar-se num dos prostíbulos da vila onde tudo aconteceu. O senhor presidente é daqueles tipos que não gosta de usar camisinha, envolveu-se com a menina sem protecção durante muitas horas. Naquele dia passaram toda a noite juntos, tendo-se separado no dia seguinte de manhã.

A menina já tinha o emprego na mão, mas o senhor presidente não sabia que acabava de contrair o vírus do SIDA.

Passaram-se cinco anos, a menina continuava com o seu tratamento normal e estava muito bem de saúde. Com o dinheiro que ganhava na instituição onde trabalhava, alimentava os seus irmãos e cuidava da sua saúde. Já o senhor presidente, com a vida desregrada que levava começou a adoecer e a ficar debilitado fisicamente.

Num primeiro instante pensou que fosse algo normal devido ao trabalho. Mas notou que cada vez mais perdia o seu peso normal e que já começava a tossir fortemente. A tosse era frequente e o cansaço também. Diante disso tudo decidiu ir ao hospital para fazer algumas análises e saber sobre o seu estado de saúde diante de um profissional especializado.

No hospital, depois de todas as análises feitas pelo médico, o senhor presidente foi diagnosticado seropositivo.

Não quis aceitar o resultado e recusou-se em fazer o tratamento. Teve medo de informar a sua esposa sobre a sua situação e para safar-se da vergonha de ser chamado de adúltero, e por cima doente, decidiu enforcar-se. Mas antes de se enforcar escreveu uma longa carta a informar sobre o seu estado serológico e os motivos pelos quais decidiu enforcar-se, e por fim pediu desculpas para toda sua família.

Quarto acontecimento

O senhor Antenor perdeu a esposa num acidente de carro há muitos anos atrás e depois de muito tempo sozinho casou-se com uma senhora de uma localidade localizada muito longe da vila, era uma viúva que tinha uma filha de quinze anos.

A viúva, a filha e o senhor Antenor viviam juntos na periferia da vila, tinham uma machamba muito grande e cultivavam tabaco e milho. Sobreviviam com base na agricultura, no fim de cada colheita, metade do milho servia para o consumo e a outra metade servia para a venda. Já o tabaco era vendido todo para uma empresa que se dedicava à compra do tabaco e ao seu devido processamento. Com o dinheiro que conseguiam, dava para levar uma vida tranquila sem muitas preocupações.

A enteada do Antenor era uma menina bastante linda com o corpo bem definido, despertava atenção de muitos garotos da vila, por onde ela andasse não passava despercebida.

Apesar de ser uma menina e acima de tudo sua enteada, Antenor fixou os olhos nela, sempre a observava com atenção quando estivesse a realizar tarefas de casa. Quando fosse tomar banho no rio, ele a seguia e ficava mirando o seu corpo lindo durante horas, desejando-a intensamente.

Sua esposa o adorava bastante e estava muito feliz com o seu marido. Admirava-o imensamente por ser um homem compreensivo e bastante trabalhador, que fazia de tudo para não faltar pão na mesa e por cuidar tão bem da sua filha, mas não passava pela sua cabeça e nem sabia que o homem que ela tanto amava e admirava estava de olhos na sua filha.

Foram levando a vida tranquilamente, sem que a enteada percebesse que o seu padrasto estava lhe desejando fortemente e que estava esperando por uma oportunidade para lograr os seus intentos.

A mulher do Antenor estava grávida de seis meses e estava bastante ansiosa pelo nascimento do bebé porque queria alegrar o seu marido com um filho, sendo o primeiro do casal. A menina também estava muito feliz em saber que teria um irmãozinho que estava prestes a nascer, faltavam apenas três meses para o seu nascimento.

Para garantir que tudo estivesse bem com a gravidez, sendo prática comum na região o uso de ervas tradicionais, a mulher do senhor Antenor decidiu viajar até a localidade onde morava a sua mãe, uma mulher bastante experiente, para cuidar da sua gravidez nos restantes três meses. Teve que deixar a sua filha na vila para cuidar do seu marido, fazendo trabalhos de casa e preparando refeições para ele.

A viagem da esposa foi uma oportunidade única e boa para o senhor Antenor matar a sua sede. Já com a menina sozinha sem a presença da mãe por perto, ele podia fazer tudo o que quisesse sem receio algum.

A menina gostava de tomar banho no rio logo cedo, naquelas horas calmas, sem muita movimentação.

Num belo dia, despediu ao padrasto que ia ao rio tomar banho e que voltaria depois de uma ou duas horas. Caminhou até ao rio, chegado lá, estava somente ela e ninguém mais, o padrasto seguiu-a e parou distante para que ela não se apercebesse da sua presença. A menina despiu-se toda e mergulhou-se na água, com os movimentos lentos passava o sabão sobre o seu corpo, molhava o seu cabelo e passava a água pelo corpo inteiro. O padrasto mirava-a de longe e cada vez que ela passava o sabão sobre o seu corpo, o seu desejo de possuí-la aumentava cada vez mais.

Não tardou para o senhor Antenor tomar a decisão que há tanto tempo esperava, aproximou-se lentamente até chegar ao local onde a menina tomava banho sem que ela se apercebesse. Despiu toda sua roupa e mergulhou-se na água, quando a menina tomou o susto ele já estava lá. Agarrou-a fortemente nos braços e tirou-a para fora da água, a menina tentou gritar, mas em vão porque somente estavam os dois no rio. Depois de muita luta entre os dois, o senhor Antenor violentou sexualmente a sua enteada, dando por fim o seu desejo ardente pela menina.

Desde aquele dia a menina já não era mais a mesma, passava todo o dia trancada no seu quarto triste e já não conversava com frequência com as suas amigas. O senhor Antenor ameaçou matá-la caso ela contasse ou para a mãe ou para qualquer outra pessoa.

Passaram-se três meses e o bebé que sua esposa tanto queria nasceu saudável e lindo. Apesar da tristeza e do isolamento da menina, ao saber que já tinha um irmãozinho ficou feliz. O senhor Antenor também ficou muito feliz com a chegada do seu primeiro filho e preparou uma grande festa para a recepção da sua mulher e do bebé.

Depois de estarem novamente juntos, mulher, marido, filha e agora com mais um filho, a mulher do senhor Antenor começou a notar mudanças na filha. O comportamento dela já não era mais o mesmo, ficava muito tempo isolada e fechada, e quando a mãe a perguntasse sobre o que estava a acontecer, nada dizia. O seu físico já estava a mudar e a sua pele estava cada vez mais clara, indícios de uma gravidez, coisas que não passaram despercebidas da mãe, sendo uma pessoa adulta e conhecedora das coisas.

Diante dessa situação decidiu observá-la com atenção para ter certeza. Começou a analisar o comportamento da filha dia após dia e começou a notar sinais de gravidez nela, a barriga já estava a crescer e os enjoos começaram a ser frequentes. Daí teve a certeza absoluta da gravidez da filha e decidiu investir pesado para saber de quem era o bebé que ela esperava.

Depois de vários questionamentos da mãe, dos vizinhos e de alguns familiares distantes, a menina não aguentou com a pressão e acabou por revelar o que ela tanto escondia na presença de todos. O filho que ela esperava era do seu padrasto, senhor Antenor.

Diante da tamanha vergonha, o senhor Antenor abandonou a casa, foi para bem longe, em parte incerta e nunca mais voltou. Até hoje ninguém sabe sobre o seu paradeiro.

Quinto e último acontecimento

Naquele dia fazia um sol intenso, quando tudo aconteceu. De repente a vila ficou toda em silêncio, silêncio absoluto. Ninguém queria acreditar no que acabava de acontecer, cenas daquele tipo só acontecem nos filmes de terror.

A vila acordou muito agitada, fazia muito sol no dia dois de Agosto de mil novecentos e noventa e quatro, os munícipes circulavam de um lado para o outro, cada um com a sua preocupação. Perante toda essa agitação ninguém imaginava o que poderia acontecer no final da tarde daquele mesmo dia, lá para as 16 horas. Tudo aconteceu no do bairro Nyerere, considerado o bastião da prostituição e da criminalidade.

Havia um casal bastante jovem. Marido e mulher viviam naquele bairro há dois anos e tinham um filho de seis anos, e o outro estava no ventre da mãe, que estava grávida de cinco meses. Beto e Marcela estavam juntos há sensivelmente oito anos e viviam muito felizes, sendo que se amavam bastante e levavam uma vida bastante tranquila na companhia do seu filho Miguelito.

Naquele ano, os boatos e as fofocas eram frequentes em toda a vila. As pessoas despendiam o seu rico tempo nas fofocas e bisbilhotando a vida dos outros, ao invés de cuidarem das suas próprias vidas. Como fruto dos boatos e das fofocas, muitos casamentos foram destruídos e houve também muitos casos de violência doméstica.

Beto era motorista de profissão e viajava bastante. Aparentava ser bastante tranquilo e concentrado. Marcela era lindíssima, magra e alta, com cabelos curtos bem tratados e um sorriso arrepiante, passava a maior parte do seu tempo cuidando da casa quando o marido viajasse. De vezes em quando Ndaluza, primo da Marcela visitava a família. Tais visitas não duravam mais de três horas, pareciam visitas médicas. Ndaluza e Beto conheciam-se há bastante tempo, por isso as suas visitas eram bem-vindas para a família.

Numa das viagens que Beto fez para Tanzânia, demorou três meses para regressar, deixou em casa a esposa grávida de cinco meses e o seu filho de seis anos. Enquanto esteve ausente nesse período, o primo Ndaluza frequentou umas quatro vezes a sua casa, como era habitual, para uma simples visita que não passava de três horas. Diante dessas visitas, os vizinhos fofoqueiros que eram, começaram a especular o pior, diziam-se uns aos outros que Marcela aproveitou-se da ausência do marido para trazer o seu amante em casa. Alguns chegaram a dizer que o tal bebé que Marcela esperava supostamente seria do suposto amante, que na verdade tratava-se do seu primo.

O boato espalhou-se por toda a vila e rapidamente chegou aos ouvidos do Beto por meio de uma chamada telefónica efectuada por um dos vizinhos do bairro, tendo falado no anonimato. Na ligação feita, o vizinho falou tamanhas barbaridades em relação ao suposto relacionamento entre Marcela e o seu amante, disse que os dois encontravam-se frequentemente no período nocturno e que esperavam que a criança dormisse para namorarem tranquilamente. As declarações do vizinho anónimo deixaram o jovem motorista bastante furioso e transtornado, que de imediato apressou a viagem e regressou para a sua vila de origem.

Ao chegar a casa, transtornado e furioso, não quis saber de mais nada, nem sequer deu espaço para a mulher lhe saudar e conversar em torno da viagem. Parecia que estava possuído por um espírito qualquer. Sem delongas, pegou numa faca grande, aproximou-se da esposa e esfaqueou-a quatro vezes na barriga diante dos olhos do filho de apenas seis anos. A mulher morreu na hora, não teve tempo de ser socorrida para o hospital, simplesmente morreu sem ter sabido sobre as reais razões da sua morte.

Vendo a esposa morta, Beto fugiu para bem longe, em parte incerta. Algumas pessoas dizem que ele fugiu para Zimbabwe, outras para Malawi. Mas a verdade é que ninguém sabe realmente do seu paradeiro.

Miguelito, seu único filho foi acolhido pelos avós maternos.

Manuel Chionga
Enviado por Manuel Chionga em 30/08/2021
Código do texto: T7331736
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