O PERIGO DE FICAR SOZINHA À TOA
Ele a viu absorta tomando sol, o olhar distante, sozinha e apetitosa, quase a pedir para cair nas suas garras, ser apanhada e abatida. Não a deixaria escapar, estava fácil demais pega-la enquanto se entranhava, talvez, em pensamentos, sabe-se lá o quw se passava na mente dela. Não importava, ali se encontrava, súbita ao seu campo de visão, a presa indefesa e ele, predador que era, aproveitaria a oportunidade.
Pisando suavemente temendo alerta-la, correndo o risco de ser visto e a gostosura fugir, aproximava-se lenta mas paulatinamente, o coração disparado ante a iminência de satisfazer cada célula de seu corpo, lambeu o ar, cresceu os olhos, aguçaram-se-lhe os instintos mais selvagens, os desejos mais recônditos. Não lhe daria nenhuma chance, iria agarra-la, depois brincaria por instantes com o pequeno, mas piteuzinho, corpo dela, até cansar de tanto açular a fome e, por fim, a tomaria de jeito, ah, a imaginação o excitou.
Ela balançou levemente a cabeça, adorava estar ao sol naquele horário, longe de imaginar o grande perigo que a rondava. A brisa tocou-lhe os olhos, que piscaram, remexeu-se lânguida(o predador ficou ainda mais oriçado, ali perto), acomodou-se melhor no lugar onde estava, deliciada, feliz, vívida, desatenta.
Agora ele gritava de prazer por dentro, ela seria dele, não havia empecilho algum, bastava chegar mais perto e dar o bote, dependia somente dele, de andar como se sobre veludo, de cair-lhe em cima e... fim.
Ele se preparou para agarra-la, impulsionou-se e saltou. Por frações de segundo fluiu a impressão de que ele alcançaria o intento, todavia, sem qualquer explicação plausível, num átimo, ela o viu, pulou e saiu em desabalada carreira, ele em seu encalço ansioso, internamente ela gritava, não a escutavam, - por quê? -, a perseguição se intensificava, ela porém foi mais rápida e desapareceu num matagal próximo.
Não foi dessa vez, o bichano frustrou-se e a lagartixa livrou-se de ser comida.