Enclausurados

Enclausurados. Onze pessoas. Conhecidas. Amigas. De fora, alguém, tossindo, anuncia que chamaram os bombeiros. A respiração começava a faltar para alguns, mais pelo medo que pelos cinco minutos em que esperavam por socorro. Josias resolveu pilheriar. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Alguns sorriram um sorriso amarelo, mas o velho Ronald deu uma gargalhada aberta. O velho olhava para os lados e ria-se da situação. Enclausurados. A jovenzinha Renata amaldiçoou o convite de tia Rita para irem àquela festa em um apartamento de pessoas que ela nem conhecia direito. Justamente ela, que tinha de conviver com os padecimentos da asma. Tão jovem e já sofrendo, enquanto as amigas saíam sem hora pra voltar, namoravam, namoravam muito e iam vivendo uma vida que ela tinha pela metade. Ah! Ainda bem que havia quem a amava de verdade. Ali, naquele aperto, ela podia sentir a preocupação de tia Rita, quase um apavoramento, tudo pela sobrinha. Tia Rita até se esquecia de si e dos outros e só pensava na sobrinha enfiada naquela gaiola, com alguns exalando embriaguez, da bebedeira antes de entrarem naquela jaula. Dez minutos. Enclausurados. Renatinha sentiu a respiração pesada, mas quis poupar a tia e esperar por socorro, que não chegava. E já não sabia o que iam encontrar do outro lado. Parecia uma eternidade. Josias pilheriou de novo e não ouviu mais que silêncio e o sorriso amarelo do velho Ronald. Vinda de fora, Renatinha ouvira de novo a mesma voz gritar que já tinham chamado os bombeiros. Haveria chamas, muitas chamas pertinho deles. Renatinha viu horror no rosto de todos. E eles ali, sem poder ajudar. Sem poder se salvar. E se saíssem? O velho Ronald pediu que Ari tentasse forçar a porta. Mas nada. Alguém lá fora repetiu que o síndico chamara os bombeiros, mas eles estavam em diligência. Renatinha puxa o ar e pensa na fumaça lá fora. Enclausurados. Quinze minutos são uma vida e a gente não repara nisso. A mesma voz anuncia que o técnico tinha chegado. Sim, ele chegara e, de repente, a porta encravada no térreo começou a se abrir e cada um que saía levava um esporro pela irresponsabilidade de sobrecarregar o elevador.