Conto das terças-feiras – Encontro familiar
Gilberto Carvalho Pereira, Fortaleza, CE, 24 de agosto de 2021.
Sexta-feira, 13 de agosto de 2021, três irmãs que não se encontravam pessoalmente há mais de sete anos, estiveram reunidas, em Salvador, para comemorar os 70 anos de idade de uma delas, na verdade, a do meio. A comemoração contou com a presença de parentes e amigos residentes em outras cidades, que se deslocaram até a capital baiana para participarem de tal efeméride. Outros tantos amigos e amigas, residentes localmente, abrilhantaram o fausto acontecimento. A aniversariante reinava entre eles, sua personalidade divertida e riso fácil, sua vontade de abraçar a todos, seu gosto pela dança e disponibilidade para servir, sempre contribuíram para o engajamento de um batalhão de amigos ao seu redor. Foi uma noite excepcional para ela e para os presentes.
Terminada a festança, as três irmãs seguiram para casa da aniversariante, pois era lá que estavam hospedadas as duas outras, por residirem em outros estados. Em lá chegando, instalaram-se na sala de visitas e puseram-se a conversar, a relembrar o tempo passado, desde a infância, coisa que não faziam há tanto tempo. A de menos idade, mais espirituosa e de memória mais fresca passou a recordar as situações bizarras das duas outras, quando crianças.
— Vocês se lembram dos apelidos que colocavam na gente? E, apontando para a irmã do meio, a aniversariante, disparou:
— O seu era amarelinha, sempre magrinha e fazendo-se de doente quando a mamãe ameaçava castigá-la, por algum malfeito.
Todas caíram na gargalhada, e a espirituosa, satisfeita por ter alcançado o objetivo de fazê-las rir, apontou para a outra, dizendo:
— Essa aí era muito impulsiva e brigava na rua, era chamada de “paraíba”. E não se importava.
Em troca, as duas outras tentaram colocar na roda a irmã mais nova, a espirituosa, nenhuma das duas relembrava o apelido dado a ela, era de outro tempo. As de mais idade já eram mocinhas, não ligavam para essa brincadeira, já pensavam em namorar. Em seguida foram lembrados os apelidos dos irmãos que, embora ausentes, entraram na brincadeira das três irmãs. Um era chamado de rato-calunga, por ter comido escondido camarões que a mãe colocara para secar. As cascas foram encontradas embaixo de sua cama. Ao ser questionado sobre isso, ele respondeu que fora um rato-calunga. O irmão mais novo era chamado de seu Antônio, cujo motivo não foi explicado.
A cada relembrança sempre vinham gargalhadas. Os apelidos já não surtiam efeitos, tudo naquela sala era só alegria, mesmo assim elas continuavam com suas reminiscências. Falavam sobre os vizinhos, os amigos, os professores, sobre os locais que moraram. Veio o momento das tristezas, a ida do irmão mais velho para o Rio de Janeiro, servir o Exército. Foi a primeira separação entre eles. Era o xodó da mãe, lembraram que a casa ficara triste, a mãe chorava muito, ele só tinha 17 anos de idade. Depois, o passamento do pai, que sofrera muito com uma doença terminal.
Uma delas alertou que aquele dia era de alegria:
— Vamos parar com as tristezas!
O comentário seguinte foi sobre a formatura da mais velha, professora! O início da atividade profissional dessa, que passara em concurso público e fora trabalhar em órgão federal. O primeiro casamento na família, o nascimento dos filhos, os primeiros netos, deixando o coração da mãe em regozijo. A ida da aniversariante para Brasília, mais uma separação. Lá se casou, mais netos e sobrinhos, a família crescia, a irmã mais velha mudou-se para outro estado. A irmã espirituosa foi morar com o irmão mais velho no Rio de Janeiro, a de Brasília, em Salvador. Perderam a mãe e a irmã caçula, tristeza!
A noite já ia alta, a madrugada apertava os olhinhos daquelas três senhoras que, cansadas, estavam quase a dormir em suas cadeiras. Deram-se boa-noite, com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso de satisfação por perceberem que naquela noite revigoraram suas vontades de viverem unidas, mesmo na distância. Cada uma se dirigiu para o seu quarto, as luzes foram apagadas e o silêncio se fez.