Triste Fim
Pela suja de carvão, rosto corado pelo sol, pele chamuscada, vestes arruinadas, indisposição. Na calada da noite só a lua ilumina. Na rua deserta a vida não é mais certeza. Ele para! Um cobertor velho e sujo enrolado debaixo do braço, a aparência asquerosa, o dente podre, e os olhos quase que sem valor, súplica, se humilha, implora.
Um pedaço de pão! Um prato de sopa lhe aquece o estômago, mas um abraço seria bem-vindo para aquecer lhe o coração.
Mas ninguém se habilita, e ele olha tristonho a calçada suja, a sarjeta lotada de bitucas, de baratas, de horrores.
Uma cama de papelão, o travesseiro de jornal, e a marquise de um hotel abandonado. Está frio, e sem cobertor ele não sabe o que fazer. João se encolhe e chora. Suas lágrimas são doloridas, ver seu sofrimento é doloroso, mas alguém faz alguma coisa, ou ninguém faz nada?
João é invisível. Você passa por ele todos os dias, mas não percebe. Ouve o lamento por comida, mas vira a cara. Para que se importar? É só mais um, é só um nada.
João pega no sono. Na rua o barulho do silêncio das ruas vazias, do estômago roncando, do lamento de um pai do outro lado da avenida debaixo de uma ponte. O pai se desespera, a filha nascida há poucos dias morrera de fome. Triste fim de quem não teve começo.