Ossos do Ofício
Valdenor, um cabo enfermeiro, estava de serviço na segunda feira, ficaria até o outro dia do plantão, na enfermaria do hospital psiquiátrico da Marinha em Jacarepaguá, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Naquele exato momento, atendia, enluvado, fazendo a limpeza de uma ferida no paciente desorientado, mas tranquilo.
Naquele instante, foi interpelado por João Roberto, um capitão – tenente do Quadro Complementar.
- O, cabo, você pode fazer uma ligação para minha esposa?
- Sim, tenente! Posso, sim, mas o senhor se incomoda de esperar uns cinco minutinhos, enquanto concluo este procedimento, aqui neste paciente – João Roberto, calado saiu.
Concluído a tarefa, procurou pelo oficial na enfermaria e não o achou. Foi quando um de seus companheiros que estava de retém, cumprindo expediente, disse que o doutor Bento, vice – diretor da unidade queria falar com ele. Valdenor, agradecendo, pediu que o retém ficasse em seu lugar, para atender ao psiquiatra médico.
Bateu à porta e pediu para entrar. O vice – diretor, na companhia de um almirante da reserva. O deixou entrar. E quando o subordinado entrou e fechou a porta. O doutor Bento deu – lhe admoestação severa.
Valdenor abriu a boca, mas não lhe foi dado a oportunidade de falar, explicar o que estava acontecendo.
- Cale – se, cabo! Não quero ouvir. Você não pode negligenciar uma ordem de um oficial.
- Mas, chefe! ...
- Já disse, cale sua boca! Apenas escute, eu não quero ouvir explicações. Quero que me escute! O capitão – tenente João Roberto me falou de sua atitude e do, não, que você lhe deu. Que isso não torne a se repetir. Está escutando.
- Mas, doutor!
- Já falei que é para calar a boca! Dando apenas um pio daqui em diante, eu lhe dou dez dias de cadeia. Você sai daqui para o bailéu, vou te mandar para o Presídio Naval, passar dez dias de prisão rigorosa! Indignado, o enfermeiro saiu da sala. Controlando as emoções para não chorar de ódio.
Quando cruzou com o pivô da reprimenda que tomou do vice – diretor. Reprimiu as emoções e chamou o tenente roda de ferro, ligou conforme ele mandou – lhe e deixou o oficial entrar no posto de enfermagem para atender o telefonema. O plantão transcorreu e, depois da hora da ceia, já prestes ao toque de silêncio, o capitão – tenente veio lhe dirigir a palavra.
- Valdenor, está tudo bem? – o cabo sorrindo ironicamente, respondeu à pergunta descarada de seu superior hierárquico.
- O que você acha?
- Pensei que tinha ficado com raiva de mim...
- Meu chefe, o senhor tem todo o direito de reclamar. É um oficial. Não ligue eu estou tranquilo, e a chamada do vice – diretor, o aperto que ele me deu, são ossos do ofício.