O pedido de desculpas

- Comandante, vim aqui para denunciar um abuso de autoridade, no meu entender! Coisa que eu já me falaram, mas que eu nunca senti na pele...Aconteceu no alojamento!

- E o que foi, Modesto? Diga – me, por favor! – assim o comandante me deu a oportunidade de contar.

- Chefe, o tenente Espinheira me ofendeu na frente de mais de cinquenta recrutas no alojamento e, além disso chutou meu chapéu! Estava sujo, mas é um material da Nação!

- Como foi isso, seja mais claro!

- Comandante, eu voltei da balada na madrugada e entrei no alojamento para dormir. O oficial me despertou, batendo com força no beliche e gritando. Pensei que era alguma brincadeira dos colegas. E cheguei a xingar quem fazia o barulho, me virando para o lado oposto...

- Sim, e aí que mais¬?

- Meu chefe! Eu me desculpei, ao perceber que se tratava de um oficial... Ele, bruscamente – após eu ter me desculpado . mandou trocar de roupa e ir para uma formatura. Até aí eu não sabia do que se tratava. Coloquei o branco e fui para onde ele determinou...

- Certo, e o que mais?

- Bem, já na formatura, o tenente explicou o motivo. Um onceiro esquecera o rádio gravador à garra e sumiram com o rádio dele. O fato foi denunciado ao oficial de serviço e, imediatamente, foi tentar achar o rádio, convocando – se uma inspeção de armário.

-Sim, marujo! Mas seja mais breve. O que de fato aconteceu e o traz a mim? – já com um que de paciência, assim o comandante me perguntou.

-Sim, chefe. Vou contar... Feita a formatura, o tenente Espinheira andou do princípio ao fim daquela e parou na minha frente, disse que meu uniforme estava um lixo, pegou meu chapéu, jogou no chão e me chamou de cretino e palhaço...

- O que? Ele fez isso e você deu um murro na cara dele?

-Não, meu chefe! Eu tinha duas razões bem fortes para não fazer isso: ele é meu superior e estava com uma pistola nove milímetros da cintura! Ele descontrolado como estava me dá um tiro, quem vai ficar a meu favor?

- Eh, você tem toda razão, marujo! E o que você quer que eu faça? Você pediu para representar ele? Do contrário, nada posso fazer. Marujo, você tem que aprender a agir, conforme o regulamento manda. Eu vou ficar do seu lado, mas você terá que agir dentro da hierarquia e da disciplina. Vá até a sala dele e conforme estou lhe falando.

- Sim, senhor! Eu só gostaria que ele admitisse o seu erro (o dele) e me pedisse desculpas. É o mínimo, senhor! Pois fui da Escola de Aprendizes mais rígidas e lá ninguém, entre os meus instrutores,me ensinou que um mais antigo podia fazer o que o tenente fez.

- Está certo! Mas não perca tempo. Vá lá! – me mandou brandamente reparar meu erro.

Nesse ínterim, meu comandante telefonou para o tenente Espinheira e disse que reparasse a besteira enorme que fizera. Ao chegar na porta de sua sala [a do tenente Espinheira] bati e pedi para entrar. O oficial, que já esperava pela minha vinda, e me mandou adentrar. Me recebeu, perguntou se eu estava zangado e me pediu desculpas. Aceitei e disse que ele estava perdoado. Afinal, eu sempre o tive na maior estima e admiração. E sabia que ele era uma pessoa condescendente e prova maior estava ali, em reconhecer seu erro. Pedi perdi permissão para sair e, após me ser concedida, partir para o meu setor. Sem guardar mágoas e ressentimentos, mas devo admitir que foi preciso um tempo até a ferida do ressentimento cicatrizar. Porém hoje, posso dizer que o perdoei de verdade. Afinal, é um sentimento muito ruim e acaba com a pessoa por dentro, mas o bom cristão precisa do aprendizado do perdão.

Moysés Severo
Enviado por Moysés Severo em 06/08/2021
Código do texto: T7315351
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