O médico da minha mãe

Minha mãe, uma senhora plácida e vaidosa no auge virtuoso de seus 62 anos, era uma mulher linda, que aposentou seus cabelos negros precocemente, dando lugar à seda branca e magnifica de um grisalho crescente.

Dona de uma pele que não habitava uma ruga sequer, diferente de mim que nos meus tristes 26 anos era já rodeada de marcas de expressões referentes a uma idosa milenar , sempre visitava a clinica médica para os cuidados de corpo e alma, assim ela dizia.

Na terça à tarde ela me liga apressada e gritalhona que me fez quase esmagar nossa gata Lili que deitara sobre minhas pernas enquanto eu fazia o layout de uma empresa local.

- Oi mãe, o que aconteceu ? fala com calma.

- Eu não sei porque essas coisas só acontecem comigo, eu almadiçoei a cruz do senhor.... (choro quase convicente )

Dona Geralda tem desses dramas típicos de novela mexicana.

- Filha liga pra clínica, pra Dra Cintia, o meu pé ta coçando todo vermelho acho que é... Meu Deus, vão amputar minha perna , nunca mais vou caminhar na praia...

- Calma, mãe ! vem dormir hoje aqui, amanhã cedo vamos na clínica descobrir o que é isso!

Liguei quase instantaneamente para clinica médica para agendar uma consulta.

No dia seguinte, às 6 da matina, minha mãe já tinha levantado da cama -dormira comigo, como sempre fazia quando estava preocupada- feito o café, lavado a roupa, banhado a gata, limpado a casa e podado as plantas... tudo isso porque certamente nos atrasaríamos para consulta que seria às 10 da manhã.

Chegando lá, fomos informadas que Dra Cintia teria faltado por problemas familiares mas seríamos atendidas por um médico que ingressara recentemente à clinica .

-Ele é super renomado, é professor universitário e chefe do setor de dermatologia do hospital regional, disse a recepcionista.

-Ah então ele é bom mesmo, disse mamãe enquanto eu lia pela sétima vez o meu livro de bolso que carrego pra todo lugar de espera que vou.

pegamos a senha e aguardamos breves minutos.

- Senha 04322, Geralda de Assis Brandão.

Entramos submissas e tensas ao consultório.

- Olá, dona Geralda?

Eu não sou dramática como minha mãe, mas eu engoli o chiclete que mastigava quando vi aquele homem;

A voz robusta e macia, tilintava de um homem de estatura mediana mas de um corpo marcado que entregava horas diárias na musculação sob uma camisa xadrez de tons azulados, sorria de lado aquele homem ruivo com aspecto levemente grisalho, nos seus 40 e poucos de um fluido charme que balanceia minhas pernas só de lembrar.

- senta filha.

- o quê?

Eu estava ainda em pé, como a tonta que sou.

Ele examinou a pele da minha mãe longos minutos, que foi tempo suficiente para eu analisar cada detalhe daquele homem que de uma forma diferente e única dos demais chamou minha atenção; procurei logo um sinal de compromisso no seu dedo como a boa e esperta solteira que sou. Não tinha.

Enquanto minha mãe tagarelava o seu rol de perguntas que anotara na sala de espera, eu sentia aquele charmoso Dr a me observar quase como se estudasse e mapeasse o meu corpo , principalmente o meu ombro e colo - desconfio por estar ambos de fora num body vermelho que entrelaça o pescoço e deixa um tom sexy de mulher de verdade- eu me lanço a jogar olhares e balançar o cabelo discretamente, como um bom flerte inocente e corajoso de um consultório médico. Nunca havia acontecido.

- Dona Geralda, o seu problema parece tão simples quanta a solução. Aparentemente a senhora contraiu uma micose na praia. Passarei uma pomada pra coceira e capsulas à base de cetoconazol para tomar durante uma semana.

- Ai que boa noticia doutoooor , disse eu ainda vidrada no homem gastando todo meu sexy appleal.

- Para a senhorita recomendo o mesmo, porque tendo a micose se espalhado pela pele de sua mãe, temo que a tenha contagiado, principalmente nas áreas do colo, pescoço e ombro.

( fiquei sem ação)

- obrigada Doutor, disse.

Faltou o tratamento pro meu ego ferido.

Sara Beatriz Serra
Enviado por Sara Beatriz Serra em 02/08/2021
Código do texto: T7312491
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