25/07. DIA DO ESCRITOR.

Domingo, 25 de julho. Um dia frio e modorrento de inverno. Juvenal abriu a porta do apê da rua das Tulipas. Jogou a sacola do supermercado sobre o sofá. Abriu as cortinas da sacada, deixando a luz do sol entrar. O gato subiu no sofá. -"Sem carne, Garfield. Os preços estão nas alturas." O jornal do dia, enrolado ainda. -"Essa pandemia que não passa, Garfield. Mundo chato e estranho. Saudades da minha companheira Gertrude, que se foi ano passado. Saudades dos abraços, da missa demorada do padre Alfredo, das rodadas de bocha no bar do Gordo, do frango assado da padóca do Lau e de pastel da feira. Esse é o novo normal, muito anormal." A tevê ligada. As olimpíadas do Japão. Ele foi até a cozinha. Um copo com água e três caixas de remédios. O lembrete na porta da geladeira, com a data de sua segunda dose da vacina. O celular tocou. Os grupos de whatsapp da família e da empresa. -"Tio Juvenal, o senhor está no jornal." Ele abriu o periódico. Duas páginas inteiras sobre o dia do escritor, comemorado em 25 de julho. Juvenal ajeitou os óculos. O gato subiu no sofá. Alguns leitores relatavam que sentiam saudades das poesias de J.B. Madureira no jornal. A coluna semanal trazia versos sobre a realidade brasileira. Há seis anos a coluna parou de sair. Juvenal engoliu em seco. Apenas a família sabia que era ele o tal J.B.Madureira, Juvenal Batista Madureira. -"Puxa. Não sabia que era querido e que sentiriam falta daquelas poesias!" Tinha escrito um só livro, encalhado nas vendas. Um fracasso. No final da matéria uma pergunta: onde estaria J.B. Madureira? Estaria vivo? Quem seria o escritor JB?" Juvenal olhou para o gato. -"Será que é hora de aparecer?" O gato miou, concordando. Juvenal colocou ração pro gato. Sentou em frente ao computador. Resolveu abrir uma conta no Face e Instagram. Passou a tarde escrevendo e resolveu enviar a poesia no email do jornal. Riu sozinho. -"Queria ver a cara deles ao receber isso!" Postou uma foto e assinou Juvenal Batista Madureira. A tarde passou e ele esqueceu de almoçar, envolvido e viajando na leitura. Ele viu alguns vídeos viralizando no Tik Tok, a dancinha do J.B.Madureira. -" Estranho escrever no PC. Que saudades da minha máquina de escrever Hamilton. Quem sabe há tempo de escrever um besta sellers? Só tenho 57. Feliz dia do escritor." FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 26/07/2021
Reeditado em 26/07/2021
Código do texto: T7307805
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