A reperscussão

A repercussão do quebra – quebra na feirinha da Parquelândia foi enorme nos jornais de Fortaleza, O Povo e O Diário do Nordeste estamparam na primeira página da seção policial o caso. Fora achada uma carteira de identidade de um dos aprendizes no local pela Polícia Militar, que geralmente não se metia nesse tipo de conflito e só chegava para contabilizar os mortos e encaminhar os feridos.

O comandante da Escola de Aprendizes sentiu –se pressionado. O oficial de serviço do dia fora consultado e, sem saber o que dizer, procurou informações com o contramestre daquele sábado; se vira algum movimento anormal durante o transcorrer do serviço dele e nada obteve. Sem uma resposta concreta para dar ao comandante, que já comentara o caso com o imediato e o Chefe do Departamento Escolar, o oficial, um tenente candidato ao Quadro Complementar, temeu pela promoção dele. Estava num mato sem cachorro. Seu pouco tempo no Serviço Ativo da Marinha, já lhe mostrara o que acontecia em casos como aquele – em que até políticos foram envolvidos, pressionados pelos eleitores – haveria um para Cristo, e não seria ele.

O sargento que estava na Sala – de- Estado na hora do acontecimento disse não ter visto nada de anormal no comportamento dos aprendizes, apenas por uma alteração – o roubo da carteira de identidade do aprendiz Bandeira com uma quantia insignificante junto (natural no caso dos aprendizes). O oficial perguntou onde estava esta e o sargento disse – lhe estar junto com os demais de pelotão do aprendiz. Na caixa onde o cabo de dia armazenara todas as identidades de quem não estava de serviço, para poder entregar aos que, licenciados, poderiam baixar a terra. O oficial determinou que o sargento trouxesse o livro de ocorrências, para encaminhá – lo ao comandante. Está ai o responsável pela confissão.

O comandante recebeu a identidade logo após o telefonema da prefeita de Fortaleza e do governador do estado, pedindo providências em relação ao caso, que rendia rios de dinheiro aos jornais e gazeteiros, já praticamente sem nenhum exemplar para os leitores, ávidos por detalhes do quebra – quebra na feirinha da Parquelândia. O fato fora veiculado nas rádios AM como a Verdinha e a Ceará Rádio Club. Os locutores, ao discorrer sobre o caso, pediam inclementemente a cabeça do marginal responsável por tamanho vandalismo, inadmissível nas terras alencarinas; repudiavam o acontecimento e diziam que q Marinha não poderia manter em suas fileiras o celerado, responsável por tamanho massacre. O oficial de posto máximo na EAMCE pegou a carteira e viu o livro de ocorrências, cujo teor participava o roubo do aprendiz Bandeira e de sua identidade, que viera com uma marca se sangue. Como naquela época não havia exame de DNA, não havia como saber a procedência deste e, portanto, estabelecer o responsável pelo quebra – quebra. O caso era complicado para o Comandante, um Capitão – de – Mar – e – Guerra, em vias de movimentação para a imediatice do Navio Aeródromo Ligeiro Minas Gerais, segundo informações privilegiadas de suas cochas, seus padrinhos, na Diretoria do Pessoal Militar da Marinha no Rio de Janeiro.

Mas precisava dar uma satisfação à sociedade, diferentemente do tempo que, no navio transporte Soares Dutra, enfrentava queixas de toda espécie, provocadas pelos subordinados dele em todos os portos por onde passavam. Variavam entre estupro ao estelionato, da desordem pública ao assassinato. Tudo era resolvido de modo fácil – bastava seguir viagem e dar dez dias de prisão rigorosa – quando se descobria algum responsável. Mas a Escola não soltava espias, cabos que prendem o navio ao cais, e não ia mar a dentro. Ele teria que punir alguém, pois na sua condição frequentava as festas no clubes de elite fortalezense como o Náutico Atlético Clube e o Ideal Clube e mantinha relações com empresários influentes no Ceará e no Nordeste, bem como políticos de alto escalão da capital e do Estado.

O comandante do Terceiro Distrito Naval, em Natal, já ligara pedindo que apurasse. E para piorar, o rapaz agredido pelos aprendizes estava no Instituto José Frota estava entre a vida e a morte; sem um osso inteiro do corpo e estado de coma induzido, por conta das dores, hemorragias e edemas no cérebro. Não sei como vou sair dessa! Teria de ouvir o que aquele aprendiz, o Bandeira, tinha a dizer. Esperava que os argumentos fossem convincentes, pois não queria ser o responsável pelo desligamento de quem quer que fosse.

Moysés Severo
Enviado por Moysés Severo em 21/07/2021
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