A MENINA QUASE INVISÍVEL
Bastava vê-la trabalhando que de imediato os sentimentos de organização e metodologia ficavam gravados na memória de quem a observasse. Não preciso nem falar da sua pele de cor tropical e dos seus cachos soltos até a altura do ombro. Era fácil ver seu sorriso leve, solto, seu jeito serelepe e brejeiro. Encantadora. Quarenta e cinco anos de belos anos de vida, casada e filhos. Vinte e cinco anos de dedicação pontual e cuidadosa ao seu trabalho. Seus dias eram dedicados a sala de curativos e a central de desinfecção e esterilização de materiais. Conhecia como ninguém os seus afazeres e fazia com perfeição.
Talvez por isso possamos entender o motivo do seu espanto. O contato diário e constante com os degermantes e desinfetantes como glutaraldeídos, ácido peracético, soluções cloradas e álcool foram aos poucos correndo a sua pele das mãos, em especial a das pontas dos dedos. Mesmo sendo uma morena notável e inesquecível, agora não conseguia mais ser identificada pelas suas digitais. O sensor do ponto eletrônico não reconhecia mais sua identificação digital, ela precisava utilizar uma senha numérica na entrada e na saída da sua jornada diária.
Aquela angústia lhe paralisava. Se o toque é a marca imutável do afeto, ela não poderia mais se fazer reconhecida pela especificidade das suaves rugosidades das suas papilas digitais. As lembranças dos seus carinhos seriam esquecidas? O quanto isso poderia afetar o seu amor? Estaria livre para amar sem deixar rastros dos seus afetos? Não ser mais identificada pelas suas marcas digitais, esse era o seu dilema. Vez por outra vagava em pensamentos. Poderia ser treinada e faria parte de uma quadrilha de roubos a joalherias. Abriria cofres, caixas e mostruários sem deixar nenhum resquício de identificação para a perícia policial. Os papiloscopistas mais experientes vazariam as noites à procura de alguma marca de identificação. Tudo em vão. Como uma mulher de tamanha expressão não poderia ser identificada? O seu olhar, o seu sorriso leve e os cachinhos envolvendo o seu rosto e pescoço, e o seu jeito de menina brincalhona seriam registros indeléveis da Fernanda na imaginação de qualquer pessoa.
Aquela angústia lhe paralisava. Se o toque é a marca imutável do afeto, ela não poderia mais se fazer reconhecida pela especificidade das suaves rugosidades das suas papilas digitais. As lembranças dos seus carinhos seriam esquecidas? O quanto isso poderia afetar o seu amor? Estaria livre para amar sem deixar rastros dos seus afetos? Não ser mais identificada pelas suas marcas digitais, esse era o seu dilema. Vez por outra vagava em pensamentos. Poderia ser treinada e faria parte de uma quadrilha de roubos a joalherias. Abriria cofres, caixas e mostruários sem deixar nenhum resquício de identificação para a perícia policial. Os papiloscopistas mais experientes vazariam as noites à procura de alguma marca de identificação. Tudo em vão. Como uma mulher de tamanha expressão não poderia ser identificada? O seu olhar, o seu sorriso leve e os cachinhos envolvendo o seu rosto e pescoço, e o seu jeito de menina brincalhona seriam registros indeléveis da Fernanda na imaginação de qualquer pessoa.