Tudo Muda, para Melhor ou Pior

19.07.2021

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Fui ao Fórum na Praça João Mendes, no centro da cidade de São Paulo, em uma tarde de junho. Ia acessar a documentação do processo da minha separação, efetivada há mais de vinte e tantos anos. Como passa o tempo, impressionante.

Depois de mais de vinte dias de solicitado o seu desarquivamento, recebi e-mail avisando que estava à disposição para ser consultado fisicamente no fórum. Agendei a entrevista pelo site do Tribunal de Justiça do Estado, e lá fui. O horário seria às dezesseis e trinta.

Cheguei mais cedo, ansioso para, quem sabe, ser antes atendido. Mas, na porta da entrada do prédio, o funcionário informou que teria que esperar até as quinze para as quatro. Era três e quinze, meia hora ainda de aguardo.

Resolvi ir tomar um café. Caminhei em direção a um local, que anos atrás, sabia ter uma cafeteria. Parei em um cruzamento e vi do outro lado, onde seria o antigo café conhecido, uma loja da “Kopenhagen”, tradicional e antiga marca de chocolates finos paulista, que agora têm também máquinas de café expresso. Atravessei a rua e fui até lá.

Entrei e cumprimentei as atendentes e o “cafeteiro”, um rapaz simpático e atencioso, como as demais, pedindo-lhe um expresso puro no balcão com a enorme e reluzente máquina de café.

Enquanto ele preparava, dei uma passeada pela loja, com seus bombons coloridos de vários recheios, os tabletes de chocolates de vários tamanhos, todos dispostos em prateleiras e bancadas colocadas estrategicamente para nos seduzir, com suas lindas e luxuosas embalagens, mas espantando-me pelos preços caros, muito caros!

Vi as caixas com as famosas “Línguas de Gato”, “Nha Benta”, e ao seu lado, as “Lajotinhas”, inesquecíveis na minha infância. Ao pegar uma, veio-me as lembranças daquela época da escola, onde a descobri e fiquei fã.

Havia no colégio uma área coberta do prédio onde passávamos o recreio, com uma lanchonete ao fundo, explorada por uma família: pai, filho e filha. Quando não levava o lanche, comprava-o nela.

-Oi seu Mário (o pai), tudo bem? O senhor faz “aquele” misto quente na “frança” (pãozinho francês) bem “torradinho” e uma coca gelada, por favor? - pedia-lhe.

Seu Mário – acredito fosse descendente de italianos, meia idade, com os cabelos grisalhos sempre penteados para trás com “Gumex”, um fixador de cabelos comum naquele tempo - aliás, usei-o muito, bigodinho aparado igual ao do Clark Gable, olhar tranquilo, voz calma e sorriso fácil. Gostava dele.

-Pode deixar, vou caprichar – virando-se lentamente para a chapa e iniciando a execução do sanduiche, com seus movimentos cadenciados e corriqueiros. Acompanhava-o ávido e faminto, pois tinha entre 10, 11 anos e fome leonina. Pronto o misto, trazia-o dentro de um saco de papel junto com a coquinha em garrafinha de vidro - uma delícia era aquele lanche, inesquecível.

Havia no local, bancos de concreto junto aos pilares de sustentação do edifício da escola, onde me sentava e devorava o lanche. Às vezes, com um amigo, ficávamos comendo e observando os colegas correndo, gritando, ou sentados como nós, naquela frenética algazarra infantil característica.

Terminado o lanche, levava a garrafa vazia até o balcão da lanchonete e seu Mário me dizia:

-E a sobremesa? “Nha Benta” ou “Lajotinha”?

“Nha Benta” eu conhecia, mas não era muito do meu gosto. “Lajotinha” era novo para mim.

-“Lajotinha”? – perguntei-lhe curioso.

Ele pegou uma, embalada em papel de alumínio, característica que a identificava e diferenciava, entregando-me aquele retângulo, um tijolinho, ou “lajotinha”, como ficou apelidada e conhecida até hoje. Era o nome escrito na embalagem que estava na minha mão naquele momento de nostalgia dos tempos de escola, aguardando o expresso.

-Experimente, vai gostar! – disse-me o seu Mário.

Peguei o bloco prateado e fui abrindo com cuidado. Apareceu o chocolate na sua cor marrom escuro, exalando aquele aroma delicioso. Dei-lhe uma mordida com cuidado. O gosto adocicado se espalhou pela minha boca, com o recheio de bolacha folheada, quase como um “Bis”, mas muito melhor. Apaixonei-me instantaneamente.

-Que delicia seu Mário.

-Está pronto o seu expresso! - fui acordado pelo cafeteiro dos meus devaneios infantis.

-Ah, obrigado – com a “Lajotinha” nas mãos. Eram agora mais finas, menores e caras, muito caras!

-Vai uma? – questiona ele vendo-a na minha mão.

-Não, obrigado. Está mais fina, menor e cara. Antes, na minha infância, era maior, mais grossa e barata. Fui viciado nela.

- Pois é, tudo muda para melhor ou pior, não é mesmo?

Tomei o café e voltei para a entrevista, concordando com o rapaz, mas nesse caso, foi para pior.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 19/07/2021
Reeditado em 19/07/2021
Código do texto: T7302978
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