A HISTÓRIA DE UMA BALA
“Sempre há uma bala voando, desocupada...
Queria voar mais livre essa bala-ave...''
– João Cabral de Melo Neto.
Vinício estava muito feliz, afinal. Tinha arranjado o emprego pelo qual batalhara nos últimos dois anos.
Durante um longo biênio ele batera insistente em portas de fábricas, de lojas e de todos os estabelecimentos possíveis. Como resposta recebia sempre um não desanimador. E isso deixava cada vez mais baixa a autoestima.
Afinal, com a conquista de um novo emprego rebrotou a esperança, novos planos para novas realizações.
O casamento com a garota que tanto amava e que por algumas vezes fora adiado, seria concretizado.
A felicidade o tocaria em cheio: teria uma esposa, um lar, e podia planejar uma verdadeira família, um filho que ele tanto sonhara.
O matrimônio foi realizado na igreja local na presença dos pais, dos sogros e dos amigos. Os colegas da Fábrica de Cartuchos vieram prestigiá-lo.
Em poucos meses a esposa veio comunicá-lo que estava grávida. Nasceu um menino forte
e vigoroso, constatou o exame de sexagem fetal.
Poderia ser nas vielas da Rocinha ou nas curvas íngremes do Cantagalo, mas foi ali, numa esquina da Augusta com a Alameda Santos.
O tiroteio no saguão do banco. Bandidos encapuzados. Muitos tiros...
Vinício, o fabricante de cartuchos, aflito, com o filho que tanto amava ao colo... Coberto de sangue...