A HISTÓRIA DE UMA BALA

“Sempre há uma bala voando, desocupada...

Queria voar mais livre essa bala-ave...''

– João Cabral de Melo Neto.

Vinício estava muito feliz, afinal. Tinha arranjado o emprego pelo qual batalhara nos últimos dois anos.

Durante um longo biênio ele batera insistente em portas de fábricas, de lojas e de todos os estabelecimentos possíveis. Como resposta recebia sempre um não desanimador. E isso deixava cada vez mais baixa a autoestima.

Afinal, com a conquista de um novo emprego rebrotou a esperança, novos planos para novas realizações.

O casamento com a garota que tanto amava e que por algumas vezes fora adiado, seria concretizado.

A felicidade o tocaria em cheio: teria uma esposa, um lar, e podia planejar uma verdadeira família, um filho que ele tanto sonhara.

O matrimônio foi realizado na igreja local na presença dos pais, dos sogros e dos amigos. Os colegas da Fábrica de Cartuchos vieram prestigiá-lo.

Em poucos meses a esposa veio comunicá-lo que estava grávida. Nasceu um menino forte

e vigoroso, constatou o exame de sexagem fetal.

Poderia ser nas vielas da Rocinha ou nas curvas íngremes do Cantagalo, mas foi ali, numa esquina da Augusta com a Alameda Santos.

O tiroteio no saguão do banco. Bandidos encapuzados. Muitos tiros...

Vinício, o fabricante de cartuchos, aflito, com o filho que tanto amava ao colo... Coberto de sangue...

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 19/07/2021
Reeditado em 22/07/2021
Código do texto: T7302570
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