A VOZ DO ANJO

A VOZ DO ANJO

A correria de um garoto parecia saculejar o viaduto. Léo acabara de fugir de casa, totalmente sem noção de tempo e de distância. Ele passa pelo meio de uma multidão, com o coração muito acelerado. Ainda meio assustado, começa a se distanciar lentamente do grupo de pessoas, chegando em uma rua bem mais pacata. Ele fica comovido ao se deparar com um morador de rua, que se encontra aos prantos. Léo aproxima-se do senhor, curioso.

- O que aconteceu, senhor?

- Não é da sua conta, garoto! Saia daqui agora!

- Por que está chorando? Eu posso ajudá-lo?

- O senhor dirige o olhar para Léo, um pouco constrangido.

- Já percebi que você é rico! Essa sua roupinha de marca não me engana!

- Se você me contar porque está chorando, eu lhe conto porque estou na rua, sozinho.

- Meu cachorro sumiu, garoto!

- Eu sinto muito!

Isso deve ser horrível!

- Meu amiguinho está sumido há três dias...já cansei de procurá-lo. Mas e você? O que houve com você?

- Eu fugi de casa!

- Saiu do meio do conforto e do carinho dos seus pais, para procurar a felicidade na rua? Não conhece os perigos?

- Meus pais não me entendem. - Diz Léo, sentando-se ao lado do senhor. -Me cobravam demais... estou cansado. Às vezes me sinto como se fosse um robô.

- Você não está valorizando seus pais! Os meus me bateram muito para que eu tivesse educação e eu nunca os desobedeci...

-Mas isso não parece ter resolvido...

- Por que diz isso?

- Se os corretivos dos seus pais tivessem adiantado, você não estaria na rua.

- Você é esperto, garoto! Pena que seja tão criança para ouvir e entender a minha história.

- O senhor acabou de dizer que eu era esperto!

- Eles apertam as mãos e o senhor começa a relatar um trecho de sua vida.

- Como eu havia lhe falado, meus pais me educaram muito bem, porém morreram quando eu tinha apenas doze anos de idade. Fui para um orfanato, mas logo fugi, não suportando as agressões físicas. Tentei trabalhar em casa de gente rica, mas era explorado e humilhado. Entendeu o porquê de eu estar morando na rua?

Léo deixa cair uma lágrima, tentando consolar o novo amigo.

-Agora eu não posso ajudá-lo, porque somos dois moradores de rua, mas prometo que assim que arranjar um emprego, lhe darei um lar.

Eles se abraçam fortemente, mas uma buzina os faz sobressaltar. O senhor abre um belo sorriso, ao ver seu cachorro vindo em sua direção. Léo fica extremamente comovido ao presenciar o abraço mais caloroso do mundo entre o cachorro e seu dono. Minutos depois Léo aperta a mão de seu amigo e lhe dá um beijo no rosto, soluçando.

- Você consegue ser feliz com o seu cachorro, mesmo tentando sobreviver com as migalhas que a vida lhe oferece, entretanto eu... eu sou um filho ingrato, que não soube dar valor aos pais, deixando-os preocupados. Você me serviu de lição e eu juro que nunca mais fugirei de casa.

O último abraço, o latido do cachorro... e o excesso de lágrimas... tudo isso fica para trás quando Léo dá alguns passos, sentindo que aquele homem parece conduzí-lo com os olhos, acreditando no seu potencial, acrescentado pelas oportunidades que a vida se encarregou de deixar na porta de sua casa.

ROZIANE COSTODIO
Enviado por ROZIANE COSTODIO em 16/07/2021
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