A pipa do destino
No azul que parecia infinito e soberano no céu daquela tarde do mês de junho, na periferia da cidade de Teresina, surgiu um pontinho vermelho, que aos poucos ia aumentando de tamanho conforme se aproximava da visão de quem o fitava. Era uma pipa, que se dirigia em queda livre rumo ao solo. Mais especificamente, seu destino era o casebre de Armando, um rapaz de dezesseis anos, tímido, mas que constantemente se metia em brigas.
O adolescente, que não tinha interesse algum em pipa desde criança, naquele dia resolveu aproveitar a rara oportunidade de ter um contato mais profundo com aquele tipo de objeto que fazia as crianças da sua rua jogarem-se na fronte dos carros sem hesitar. Era a oportunidade perfeita, já que não estava mesmo na escola (não estava de férias, é que não frequentava a escola há dois anos). O seu irmão mais novo era um dos tarados por pipa. Sonhava com elas. Dias atrás, Armando vira, no quarto que ambos dividiam, o pequeno guri de dez anos dormindo gesticulando com as mãos um empinar de pipa. Sonhava.
Eis que, quando o objeto pousou sobre a casa de Armando, este não contou história. Tratou logo de buscar uma vara e trazer o brinquedo para si. Conseguiu. Por coincidência e de forma muito estranha, aquela pipa não fora perseguida pelos outros moleques da rua como era de costume acontecer. Conseguira sem esforço aquele troféu. Comemorou.
No entanto, cerca de dez minutos depois, bate no portão enferrujado do casebre de Armando um outro rapaz com cabelos descoloridos. Ambos aparentavam ter a mesma idade.
— Caiu uma pipa aqui nesta casa. Passa pra cá. Disse o rapaz artificialmente loiro.
— Cara, pipa torada é de quem pega.
Discutiram aos berros por mais uns quatro minutos. Não vou contar muitos detalhes do que houve depois. Só o que posso e irei dizer é que no outro dia, a seguinte notícia passou nos mais diversos meios e veículos de comunicação da cidade: “Adolescente mata outro com disparos de arma de fogo em disputa por pipa”.