O olhar
Rua Riachuelo, mais ou menos 8:30 da manhã. Na ponta da calçada, ele fuma e olha a rua. De dentro do hotel, ela o mira ansiosa, enquanto tenta encerrar a conversa com um funcionário vagaroso.
Assim que se desvencilha, ela sai rapidamente, acende um cigarro e continua a fitá-lo. Da forma como ele se virou, vindo em sua direção, ela percebeu que ele também havia observado seus passos.
A rua estava movimentada. Entre os transeuntes, um menino a olhava fixamente, talvez por estar fumando ou talvez por que, naquele momento, o homem a amassava, indiferente à curiosa contemplação.
Fortemente entrelaçada ao homem, ela não conseguia tirar as vistas do menino, que ainda a acompanhava com um ar cismado.
Beijaram-se. Ela entregou-se ao beijo, mas não podia ignorar o menino que observava, já à distância, postado à beira da calçada, esperando o sinal abrir.
Sinal verde, ela sentia o beijo, enquanto se deixava intrigar pela curiosidade do menino. A mãe precisou arrastá-lo pelo braço.
Desvencilharam-se. “Vai mesmo hoje?”, quis saber o homem. “É... Não tem jeito”, ela responde tristemente. Ele se afastou e caminhou vagarosamente, enquanto ela o seguia com o olhar, dando as últimas tragadas.
Jogou fora o cigarro, falando para si: “Nem uma viradinha, porra?...”
Fim.