As Tranças e os Laços de Organdi
Queria tanto ter tranças e laços vermelhos de organdi! Queria não ter crescido, queria ainda ter a vida toda pela frente, pensava a senhora segurando nas mãos trémulas a chávena do chá. Muitas vezes conversava assim consigo mesma e dias havia em que, às perguntas, sucedia uma calma feroz, prelúdio de lágrimas, de inconformidade. – Que idade tenho? Terei mais três ou quatro anos ainda para viver, com sorte cinco. Nunca penso no que falta, mas volto frequentemente às romarias da aldeia, ao meu namorico falhado, ao casamento sem papéis, à ida para França. Depois regresso aqui, olho-me ainda vaidosa, evoco os que perdi mas nunca choro. Queria muito as tranças, os laços poderiam nem existir, mas a meninice era tudo. Depois o António, os filhos, a debandada deles todos e eu, sozinha, a falar para dentro para me acompanhar. Vendo melhor, se houvesse tranças não teria havido o António, nem os filhos, nem os largos anos de alegria que me deram. Havia, com toda a certeza, ralhos do padrasto, silêncios da mãe e os laços de organdi para dizer ao mundo que era cuidada e feliz. Definitivamente, já nem tranças quero, nem laços, nem festas. Agora bastas-me tu mesmo sem ser meu namorado.