Podemos Tudo?
Podes tudo, disse-lhe o pai. E o menino, sentado nos seus joelhos, achou que ele talvez tivesse razão. Por outro lado, bem demais sabia que havia coisas que ele, José, não podia fazer. Faltavam-lhe forças, faltava-lhe coragem, faltava-lhe, ainda, crescer. – Posso quase tudo, não é, Pai? – Isso mesmo, José. Tudo o que não puderes com o teu corpo, podes imaginar, fazer com o pensamento, ir sem sair de onde estamos agora. Vale na mesma ou, para ser mais correcto, vale ainda mais. Agora, é cedo para ires, de mão dada, com a tua namorada a um lugar especial, mas daqui a uns anos, irás. Daqui a um tempo serás, talvez, professor, arquitecto, doutor. E o menino que não queria ser nada do que o Pai dissera, retorquiu: e se, em vez desses, eu fosse mecânico, viesse a arranjar carros e máquinas, se achasse bonito o fato de macaco mesmo sujo de óleo, mesmo a cheirar como o teu, ao trabalho? Ainda é cedo para decidir, mas isso, acredita que podes vir a ser.