A PAREDE

Eduardo ainda não havia conseguido comprar uma casa, morava na casa dos pais, mesmo já estando casado e com uma filhinha mais de 1 ano de idade.

Depois que seu irmão Jorge comprou uma casa num loteamento novo, ele comprou o terreno vizinho e principiou a construção de sua tão sonhada casa.

Trabalhava nos fins de semana, ajudado por um cunhado, e durante o horário de verão ia com Jorge todas as tardes após a saída da empresa onde ambos trabalhavam, e aproveitando os dias mais longos, trabalhava na construção até escurecer, tomava um banho na casa do irmão, jantava e voltava para a casa de seus pais.

Ele era hábil no trabalho da construção, e a casa já estava em pé e coberta.

Como o terreno era em declive, Eduardo usou a terra da abertura do poço e da fossa, para aterrar a base da cozinha e nivelar a construção. Sendo assim, atrás da cozinha havia um desnível onde ele estava erguendo as paredes da lavanderia que protegeria o tanque já instalado. Era um pequeno cômodo de 2x3 metros, com telhado de ½ água. A parede dos fundos, e a lateral oposta à casa já estavam prontas e ele trabalhava agora na construção da parede da frente, onde uma porta e uma janela dariam acesso à lavanderia

Era um domingo de tarde e o tempo estava abafado.

Nuvens carregadas começaram a se formar anunciando a forte chuva que cairia breve. Eduardo havia preparado massa suficiente para erguer a parede até a altura da janela.

Firmara o batente da porta com estacas e vinha fazendo a fixação com os tijolos de baixo para cima.

Jorge chamou sua atenção para a chuva que deveria cair. Então ele começou a trabalhar cada vez mais depressa a fim de não perder a massa preparada e assentar o maior número de tijolos que pudesse.

O vento repentino fazia redemoinhos com as folhas caídas das árvores do quintal de seu irmão que com um terreno muito espaçoso, criava galinhas, que corriam se abrigar dentro do galinheiro enquanto grossos pingos de chuva começavam a repipocar no quintal de terra, exalando um “cheiro de chuva”.

Eduardo trabalhava freneticamente colocando as últimas colheradas de massa e assentando os últimos tijolos. Os arredores e as casas vizinhas se escondiam atrás de cortina esbranquiçada formada pelos pingos que caiam em pé, pesadamente, e se aproximavam rápido.

A chuva começava a aumentar e vinha fechando a paisagem como uma cortina de água.

Terminado o último tijolo, Eduardo apressado, cobriu a parte superior da meia-parede, com sacos vazios de cimento e cal, fixou-os com pedaços de madeira e tijolos, para que o vento não os carregasse e a chuva não desfizesse seu trabalho.

Com a camiseta já encharcada pela chuva que caia com cada vez maior intensidade, não podendo passar pela porta, recém instalada, resolveu pular por cima da parede baixa que terminara.

Seu salto foi de dar inveja a qualquer atleta! Tomou impulso, deu um "pique no lugar" e saltou por cima do obstáculo como um campeão dos 100 metros com barreiras. Seu salto porém, foi interrompido no meio.

Jorge, que assistia tudo pelo vitro de sua cozinha, não entendeu nada...

Viu seu irmão tomar impulso, saltar e parar no ar por frações de segundo, depois desabar de costas sobre a parede que havia acabado de construir e derrubando-a totalmente...

Depois viu seu irmão levantar-se, olhar o estrago que ele mesmo causara e começar a lutar com um inimigo invisível. Ele golpeava o ar e parecia puxar algo que não se via por causa da chuva.

-Edu! Venha pra dentro! Saia da chuva que você vai ficar doente! – gritou Jorge.

Eduardo atravessou para o terreno do irmão, subiu até a sua casa de cabeça baixa, vagarosamente, como se nem estivesse sentindo a chuva sobre sua cabeça. Desolado...

Ao chegar à porta da cozinha, seu irmão aflito lhe perguntou o que houvera.

- O varal... - foi só o que ele respondeu estendendo a mão que segurava um pedaço de arame enrolado.-

Havia um varal na frente do que seria a janela da lavanderia; era um fio de arame amarrado entre dois mourões e quando Eduardo saltou, seu peito bateu no fio, que se esticou, e depois, como uma mola, o impulsionou de volta contra a parede fresca, que, com o impacto, desmoronou completamente, derrubando inclusive a porta recém assentada...

Eduardo arrancou o arame, furioso, mas de nada adiantou. Todo seu trabalho do fim de semana já estava perdido...

Cléa Magnani
Enviado por Cléa Magnani em 01/07/2021
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