Minha infância

A casa alugada da Vila Esperança foi o maior palco de nossas aventuras de infância. Lembro-me de cada detalhe da casa. Não tinha forro no teto e a noite deitava na cama e ficava lendo o nome escrito da cerâmica fabricante nas telhas de barro. O chão era de tijolo e eu adorava ajudar a lavar a casa nas sextas-feiras. O chão ficava limpinho e secava rápido, pois o tijolo absorvia a água muito rápido.

A rua nem tinha asfalto e foi uma farra quando veio a rede de esgoto e fizeram enormes buracos nas ruas para instalarem os tubos e nós fazíamos fila para andar na máquina. Implorávamos para os funcionários nos deixar andar um pouquinho naquelas máquinas gigantes. A noite corríamos pela tubulação. Era uma festa!

Tinha pais de lata, pega-pega, bolinhas de gude, queimada, pega ladrão, esconde-esconde, amarelinha, pular corda, futebol, jogos de tampinhas de garrafas, mais tarde foram substituídas por saquinhos cheios de arroz. E quando chegava no Bar da Clarice e do Mário, os famosos álbuns de figurinhas? Era um tal de juntar moedas para comprar figurinhas e preencher o álbum. Tinha até figurinha carimbada e resgatar prêmios era uma delícia! Eu me lembro de jarra, jogo de copos, tigelas. Tinha até troca de figurinhas, para um ajudar o outro a terminar o álbum!

Nós tivemos uma tv preto e branco Colorado RQ e reunia toda criançada da rua para vir em casa ver tv. Me lembro de Vila Sésamo, desenhos animados, Ultraman e Ultrassevem, as lutas de Astros do Ringue e novelas como Meu pé de laranja lima.

Sem contar que tinham os carrinhos de rolimã e íamos numa descida enorme em dois, três em cada carrinho. E ir buscar beiju de farinha de milho na fábrica? Comíamos aqueles enormes beijus cedidos pelos funcionários da fábrica. Depois íamos passar o ribeirão Manduca, sem cair, passando por um cano que ligava uma margem a outra. Teve uns que caíram e a gente ria muito, ele não era fundo, mas tinha muito esgoto. Alguns meninos caçavam cascudos e levavam para casa e colocavam em latas de água.

No quintal de casa tinha uma enorme ameixeira e subíamos comer as frutas no pé. Naquela época era comum faltar água e minha mãe tinha um ou dois tambores de metal, onde armazenava água para lavar roupa, caso faltasse. O tambor velho e enferrujado já não usava mais e a gente entrava dentro e rolava descida a baixo no quintal. Não tinha maldade, nem víamos perigo nas brincadeiras, tanto que eu entrava no tambor cheio de água e ficava lá dentro, contando, para ver quem aguentava mais ficar debaixo d’água. Que loucura! Nunca aconteceu nada! Os anjos da guarda estavam sempre presentes!

Eu sinto muita saudade destes tempos que não voltam nunca mais, mas que foram vividos intensamente e a gente era feliz e sabia!

As roupas eram poucas, os sapatos, era um par só, a maior parte do tempo era de chinelos havaianas, ou mesmo de pés descalços.

Muitas roupas eram ganhadas, e me lembro que todo final de ano Tia Maria nos levava nas Lojas Pernambucanas para escolher uma roupa nova e um calçado. Eu ficava brava com minha prima Lenice, que era mais nova, e sempre queria uma roupa igual a minha, eu ficava furiosa. Estávamos prontos para o Natal em família! Eu sempre ganhei bolo e parabéns, pois faço aniversário no dia vinte e quatro de dezembro.

Era comum os parentes do sítio vir nos visitar e ficarem alguns dias e a casa era cheia de gente, não tinha muita coisa, mas a mãe sempre fazia bolos, tortas, doces e a criançada avançava.

Minha infância foi como eu sempre sonhei, muita brincadeira, muitos amigos e, a gente só precisava inventar, tudo era divertimento!

Sissili
Enviado por Sissili em 29/06/2021
Código do texto: T7289341
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