COM MEIA DÚZIA DE LIMÕES

Maria de Fatima Delfina de Moraes

Eu e meu filho mais novo (são três filhos) temos laços muito estreitos nesta vida - uma relação de almas gêmeas.
Quem imagina nada poder aprender com um filho, engana-se fatalmente.
Foi o único que sempre morou comigo, até mesmo quando quis reconstruir minha vida afetiva.
Ensinou-me a planejar toda a minha vida financeira, quando quebrei com tudo ao ter o salário durante um ano depositado em datas incertas, e, muitas vezes, somente a metade.
Meu filho foi grande parceiro de jornada.

Quatro meses antes da pandemia, meu filho casou-se.
Para que não sofresse vendo-me sofrer por uma separação, muito bem justificada, com quinze dias para se mudar me falou que iria ter sua casa e construir laços mais profundos.

Foram quatro meses  difíceis para mim, quando me vi na solidão do vazio que sua saída representava em minha vida, Sendo ele músico e compositor o que fazia de minha casa um grande estúdio, e algumas vezes até compusemos juntos: eu, ele e os amigos parceiros.
Minha casa tinha uma alegria única, especial.

Quando a pandemia começou entrei em depressão profunda. 

Saudades dos filhos, noras e de minha netinha Alice, hoje com sete anos, estando afastada de todos para minha própria proteção até tomar a primeira dose da vacina contra Covid, em abril.

Minha filha Júlia, mãe da Alice, tornou-se mais próxima por saber o quanto eu sofria com tudo isso.
 
Como não queria que eu ficasse exposta, sugeriu que eu contratasse alguém para resolver os problemas que exigissem ir à rua (compras, feira, compra de medicamentos especiais) e, ainda, auxiliasse na faxina da casa; então eu sairia somente para consultas médicas.
Os medicamentos especiais surgiram em janeiro de 2019, quando descobri uma espodiloartrose anquilosante e uma proteína que aumenta a enzima de artrite reumatóide no sangue, deixando-me uma grande inflamação no quadril e dores lancinantes, dia e noite.

E minha filha Júlia, continuou em seus conselhos:
-Mamãe tente voltar a escrever, compre um violão novo e retome o seu canto de modinhas, faça cursos online, retome seu artesanato, e principalmente, faça terapia.

- Lembro-me que quando você fez terapia pela primeira vez, você deu uma guinada de trezentos e sessenta graus em sua vida,
Fui seguindo seus conselhos e voltei para a terapia. Só então, retomei o artesanato, comecei cursos online sobre fitoterapia, artes em geral.
Descobri a arteterapia, colorindo desenhos abstratos, para preencher o tempo.
Retomei meus escritos no Recanto, e ao longo da pandemia publiquei quatro novos livros e reeditei mais dois.
Esta semana encaminhei para avaliação e publicação, novo livro intitulado Volúpia.
A alegria de meu editor foi tão grande que ele expandiu a livraria virtual para o Japão, local onde durante a pandemia, mais tem buscado a literatura.
Minha alegria foi maior ainda, porque mesmo com tantos contratempos estou retomando minha vida e, finalmente descobri que com meia dúzia de limões fiz uma limonada internacional.
 
 
 



 
Maria de Fatima Delfina de Moraes
Enviado por Maria de Fatima Delfina de Moraes em 27/06/2021
Reeditado em 27/06/2021
Código do texto: T7287710
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.