Maria do Posto
Maria do posto hora é frentista, hora está no caixa, hora está na ducha. É pau pra toda obra. Abre o primeiro botão do seu macacão pra que o silicone pago a prestação faça sentido.
Os homens adoram abastecer seus automóveis sob a visão panorâmica e quase pornográfica do busto inflado de Maria. Ela é sedutora, tem olhos verdes que delineia com crayon preto realçando muito mais o poderio natural de sua beleza suburbana.
Maria segura o gatilho e introduz à boca do tanque de combustível com um gestual único e milimetricamente calculado porque ela adora notar o olhar do motorista pelo retrovisor admirando sua beleza e sensualidade. No dia em que ela está na bomba há fila no posto de gasolina, ainda que o preço esteja exorbitante.
Os homens todos da cidade vêm de longe só pra ver Maria segurando o gatilho, introduzindo em seus veículos enquanto apoia o corpo semi-debruçado como se estivesse cansada, mas que na verdade é o movimento mais planejado dela, onde seus seios despontam levemente pelo decote e os homens ficam enlouquecidos.
Maria é indecente de tão linda. Seus lábios sem batom brilham com um gloss transparente tão sensual que mais parecem uma vagina lubrificada.
Ela recebe em cartão de crédito o valor do abastecimento, mas recebe em convites pra motel, chocolates, perfumes, gorjetas e até jóias o pagamento por ser tão maravilhosa. Maria adora a vida que tem, não quer mais saber de estudar, nem de arranjar outro emprego. O que ela tem lhe basta, promove sua autoestima e lhe garante os extras que ela mais deseja.
Também não quer ser enlaçada por nenhum daqueles homens, vez ou outra aceita algum convite para satisfação própria, jamais para satisfazê-los, tem consciência de sua autossuficiência afetiva e não acredita em promessas masculinas, sempre tão intangíveis.
Hoje Maria saiu da bomba e foi para o caixa da lojinha de conveniência porque Maria Lúcia faltou. Ela não gosta de ficar no caixa, lá não pode sensualizar tanto e o movimento no posto cai consideravelmente quando ela não está na bomba.
Mas ela tem que obedecer. Se pudesse desobedecer ao patrão ela não morreria hoje. Não de tiro. Não de assalto. Não por ter se assutado e reagido em vez de se debruçar sobre o balcão e mostrar os seios para o ladrão. Por que não pensou nisso antes? Por que não o enfeitiçou com seu charme? Por que foi perder a vida de uma forma tão besta? Por que Maria Lúcia tinha que faltar hoje? Por que morrer em seu lugar? Por que morrer? Por que as moças bonitas morrem? Por que todas as mulheres morrem? Por que as Marias morrem?
Do meu livro: Como morrem as Marias