Carpe diem
No quarto estava eu lá, deitada, refletindo sobre tanta dor que não consegui digerir diante de tantas coisas que haviam me acontecido no dia e até dessas mortes que andam acontecendo todos os dias com a COVID-19. Em meio a lágrimas peguei no sono e sonhei que meu avô, estava lá comigo, me olhando, me observando e sorrindo.
Com um sorriso largo e caindo pequenas lágrimas de seus olhos perguntou:
- Nana, Que saudades! Eu capto o que vai ao seu coração, mas quero entender... por que tanta pressa você tem de viver?
- Vô, quanta emoção te ver! Ah vô...não sei. Quero realizar tudo que sempre quis. Muita gente que não viveu muito, até menos do que eu, está morrendo.
- Nana, eu vivi muito e gostaria sim de ter vivido mais coisas, mas aprendi que aquele tempo que estava na terra com você, sua mãe, sua avó e sua irmã valeu tanto a pena. Cada reza que fizemos no caminho pra sua escola, cada conversa que tivemos no fim das entregas das quentinha do dia, cada sorriso e palhaçada que fazia com vocês foram ricos na minha caminhada
- Posso imaginar. Mas será que devo ter medo de tudo acabar? Espero que você não tenha sofrido tanto no acidente que levou a sua partida.
- Nana, o medo vem da mera ilusão de que tudo acaba. Olha eu aqui! Senti um pouco de dor sim, mas o amparo que recebi anulou todo sofrimento. Mas por quê pensar nisso tudo agora? Você ainda tem uma caminhada a realizar e está só no começo. Não se preocupe!
- Depois da ansiedade toda que eu vivi com a síndrome do pânico tenho relaxado bem mais, mas essas questões ainda vem na minha mente.
Mas, vô... que saudade que eu tenho de conversar com você, da sua presença e tranquilidade.
- Também sinto muita saudade, mas, em algum momento, vamos nos encontrar de novo. Enquanto isso viva, desfrute do que você tem, da presença dos que te amam e dos prazeres da vida. Não joga tudo isso fora.
Meu avô me abraçou, limpou as próprias lágrimas, sorrimos um para o outro e acordei ainda com o cheiro dele, ele tinha um cheirinho próprio.
Após o sonho minha mãe me ligou animada, falando que reservou um final de semana na serra, isoladas para passarmos mais tempo juntas. Desliguei o telefone feliz, fui para a janela, olhei para o céu e pensei:
"é, vô, seguirei suas sábias palavras"