Conto das terças-feiras – A mulher de sete metros
Gilberto Carvalho Pereira, Fortaleza, CE, 22 de junho de 2021
O Brasil é um dos países onde as Lendas foram influenciadas diretamente pela miscigenação de seu povo. Elas são narrativas que explicam fatos misteriosos e suas origens, levando a determinados comportamentos das pessoas. Ao utilizarem fatos reais produzem história mais credível, que são transmitidas de forma oral e incorporadas à cultura popular. Para narrativas fantásticas temos os mitos, criação dos gregos para explicar a existência de fenômenos naturais, à margem da ciência, em referência a alguns fatos reais, levando as pessoas a acreditarem nessas histórias. A diferença entre lenda e mito encontra-se nos personagens envolvidos, os mitos envolvem deuses e heróis, já as lendas são criaturas estranhas e monstruosas, além de representantes de criaturas regionais. Os fatos envolvidos devem ter no mínimo um pouco de verdade.
São incontáveis os causos reconhecidos envolvendo assombração nos diferentes estados da Federação, que se perpetuaram no imaginário popular e que despertam a curiosidade do nosso povo até os dias atuais. Aqui damos destaque para o Nordeste, pela diversidade de seu povo. Algumas figuras como Alamoa, mulher loura, bela e nua que aparece à noite para os pescadores da Ilha de Fernando de Noronha; Cuca, entidade fantástica que mete medo às crianças; também conhecida como bicho-papão; Quibungo, meio homem, meio animal, mito afro-brasileiro; Vaqueiro Misterioso, mito de origem lusitana. Ocorrem, com variantes locais, em todas as áreas de pastoreio do Brasil, e tantas outras.
O estado da Bahia é um dos mais interessantes ambientes baseados nessas narrativas. Nas proximidades da cidade de Alagoinhas, interior da Bahia, a BR 101 teve suas pistas interditadas em 2012, tendo em vista que motoristas que por ela trafegavam, relatavam estranhos vultos fantasmagóricos vagando em determinado trecho da rodovia, principalmente animais que haviam morrido atropelados há muito tempo, que saltavam à frente dos veículos causando acidentes. Durante a travessia da Baía de Todos os Santos, partindo de Salvador, vozes, gritos e gemidos são ouvidos quando barcos se aproximam de determinada ilha, conhecida hoje por Ilha do Medo.
Uma lenda muito comentada em Salvador fala de acontecimentos assombrosos oriundos da Casa das Sete Mortes ou Sete Facadas, localizada na Rua Ribeiro dos Santos, 24, onde portas se abrem e se fecham e aparições são relatadas por visitantes. Até hoje se fala que quem passa pelos tuneis do Mercado Modelo, sente a presença de uma assombração que chega a provocar em seus visitantes fortes dores de cabeça, desidratação e vontade de vomitar. Para muitos, tal fenômeno é provocado pelo espírito de um comerciante negro que morreu em 1964, vítima de um incêndio criminoso, em um dos muitos e lamentáveis episódios de limpeza étnica da capital.
Como não poderia deixar de ser, outras cidades da Bahia, Itabuna, por exemplo, também tem seu episódio de assombração que na década de 1970 abalou a cidade. Trata-se da Mulher de Sete Metros, que assombrava os motoristas que trafegavam na BR-415, rodovia federal localizada no sudeste da Bahia e liga Vitória da Conquista à Costa do Cacau, abrangendo as cidades de Ilhéus e Itabuna.
O aparecimento dessa assombração se dava geralmente entre os quilômetros seis e sete dessa rodovia, um de seus trechos mais movimentados, geralmente depois das 18 horas. Identificada como mulher, ela ficava no meio da estrada, tentando impedir a passagem dos veículos. Os acidentes ali ocorridos eram sempre atribuídos ao aparecimento dessa mulher, cujo vestido branco brilhava quando os faróis dos carros incidiam sobre ela. Apavorados, os motoristas perdiam o controle do veículo e capotava, batiam em uma Gmelina arbórea, de quase 30 metros de altura e mais de 1,0 metros de diâmetro de tronco, causando um estrago muito grande ao veículo, dependendo da velocidade desenvolvida. Essa árvore fazia parte da Mata Atlântica e encontrava-se quase no acostamento da estrada.
Não se sabe se os acidentes de Itabuna aconteciam por negligência dos motoristas que, para justificá-los, inventavam essa história que virou lenda. Eu mesmo nunca avistei a tal mulher de sete metros, e minhas passagens por essa estrada eram constantes. Também não tenho notícia de ocorrências atuais.