Sem meias palavras
As pessoas não estão acostumadas a ouvirem a verdade. Preferem quase sempre o doce som da mentira. Quando pedem a nossa opinião deixam expresso em seus rostos, quase sempre, a resposta que esperam receber. Ser sincero num mundo de fingimentos é um fardo que carrego. Não confunda, caro leitor, sinceridade com grosseria. Eu não sou grossa.
Talvez o meu tom de voz possa passar essa impressão, muitas pessoas já me disseram. No entanto, busco sempre ser sincera e verdadeira sem magoar ou prejudicar ninguém. O meu tom grosseiro que as pessoas dizem que tenho, pode estar relacionado à minha vida. Não sei, não sou nenhuma especialista para afirmar isso, mas aprendi na prática como a crueldade da vida pode endurecer o nosso olhar sobre determinados temas.
Tenho 42 anos, não sei se essa informação é necessária. Sou professora de geografia, na verdade, sou formada em geografia, em sala de aula, leciono Sociologia e Projeto de Vida. Ambas me levam a refletir com meus estudantes sobre a realidade social e como compreendê-la. Em Projeto de Vida trabalhamos os sonhos dos estudantes, e para isso é necessário que sejamos muito realista.
Os estudantes precisam perceber que não estão sendo enganados quando falamos em sonho. Por isso mesmo sou muito honesta com eles, é necessário querer e se preparar para alcançar nossos sonhos. A questão não é apenas querer, e sim, fazer acontecer. Eu mesma decidi pela Docência já depois dos 30 anos, cursei faculdade e hoje sou professora.
Sonhar é ter um Projeto de Vida, e ter um projeto diante de uma realidade que parece ser feita contra a gente, não é fácil. Tive que viver com o fato de meu pai ter cometido suicídio com os filhos dentro de casa, eu não o vi morrendo porque minha irmã mais velha, não muito mais velha que eu, abraçou a gente, enquanto meu pai agonizava com um tiro na cabeça que ele mesmo deu.
Não estou contando isso para que sintam pena de mim, pelo amor de Deus, não sintam. Conto tão somente para que você possa me conhecer e entender a minha história. Seguimos a vida sem meu pai, casei-me e tive um filho. Acho que essa informação não seria necessária, mas você poderia me acusar de omissão e isso eu não admito.
Meu marido cometeu o erro de me humilhar, insistia em jogar na minha cara tudo que fazia por mim. O que culminou na nossa separação. Reafirmo o que pedi anteriormente, não sintam pena de mim. Estou casada com um homem que me respeita, meu filho está um homem e cursando direito na universidade, ele só me traz orgulho.
Se eu vivo algum drama na minha vida, é no meu trabalho. Tive o azar de encontrar uma diretora que pensa exatamente o contrário de tudo o que acredito. Se digo que devemos orientar os jovens para que entendam o que devem ou não fazer, ela os acoberta por achar que a realidade social deles justificam suas traquinagens.
Por diversas vezes divergimos por termos visões diferentes sobre o que é educação, para mim, é orientar os jovens sobre os caminhos a serem seguidos e os que não devem ser trilhados. Para ela, é entender que os jovens erram por ter uma realidade social, e que essa realidade justifica tudo o que eles fazem, até crimes.
Naquele dia decidi que não falaria mais, passaria toda a reunião em silêncio. A pauta era delicada, mais de noventa por cento dos professores haviam assinado um abaixo-assinado para que a diretora revisse seu posicionamento. Na reunião, no entanto, vimos ela a todo custo tentando justificar suas práticas, muitas também denunciadas pelos estudantes. Tais denúncias faziam parte do processo contra a diretora que seria encaminhado à Secretaria de Educação.
A cada absurdo por ela falado, mais eu me angustiava. Ela chegou a contar algumas mentiras me envolvendo, e eu me mantive em silêncio. Não iria me envolver, tinha prometido. Meu corpo reagia ao meu silêncio. Meu rosto avermelhado, ardia com as mentiras por ela contadas.
Até que ela soube que eu também havia assinado o documento contra ela e passou da defesa ao ataque. Encontrou defeitos no professor de matemática, no de português... até chegar a mim, colocando-me contra a parede para que eu pudesse falar a favor dela. Não, eu nunca mentiria por ninguém.
Ela exigiu que eu falasse, então eu disse a verdade sobre toda a orientação que ela me passava e a forma como ela lidava com os estudantes, obrigando-os a meditarem fosse lá o que o estudante tivesse feito. Então eu disse que não concordava com tal abordagem, para mim é necessário falar com o jovem de igual para igual, uma conversa franca, mostrando a eles o certo e o errado.
Claro que ela não gostou. E eu já esperava o que me aguardava, ela sempre perseguia quem discordasse de suas ideias, fosse professor ou estudante. Não fiquei surpresa quando ela me chamou para conversar. Pediu-me que falasse por ela caso o processo contra ela chegasse à Secretaria de Educação.
Disse-lhe que falaria a verdade, sempre. Nesse instante ela encarnou o meu ex-marido e alegou tudo o que a escola supostamente em seu nome tinha feito por mim. Não só isso, ameaçou-me de demissão. Mas como disse, tenho 42 anos, já vivi e morri inúmeras vezes. Não seria por ela que iria jogar todos os meus valores no lixo.
Eu chorei, chorei muito, não vou mentir. Revivi naquela conversa infeliz momentos muito difíceis da minha vida. Sempre busquei ser a mais honesta e sincera em tudo o que faço para que ninguém pudesse me humilhar, mas quando encontramos pessoas sem caráter nossos valores são considerados problemas.
Eu nunca trairia a minha profissão e os meus valores por nada. Ela continua diretora, fez o que era preciso para isso, inclusive trocou de marido. Eu continuo professora. Não falo mais para ela dos valores da convivência em grupo, nem da ética, ela é tudo aquilo que alguém não deveria ser na gestão de uma escola.
Infelizmente, não sou eu quem escolhe os gestores escolares. Escolho sim como agir diante dos outros e da vida, e nas reuniões daquela escola, enquanto eu trabalhar lá, enfrentarei as dores de cabeça a vermelhidão em meu rosto seguido de ardência, mas continuarei em silêncio. Aquilo que chamamos de democracia não cabe na gestão da inominável. Muito menos nas reuniões que preside. Silêncio! Esse é o meu mais novo Projeto de Vida.
Talvez o meu tom de voz possa passar essa impressão, muitas pessoas já me disseram. No entanto, busco sempre ser sincera e verdadeira sem magoar ou prejudicar ninguém. O meu tom grosseiro que as pessoas dizem que tenho, pode estar relacionado à minha vida. Não sei, não sou nenhuma especialista para afirmar isso, mas aprendi na prática como a crueldade da vida pode endurecer o nosso olhar sobre determinados temas.
Tenho 42 anos, não sei se essa informação é necessária. Sou professora de geografia, na verdade, sou formada em geografia, em sala de aula, leciono Sociologia e Projeto de Vida. Ambas me levam a refletir com meus estudantes sobre a realidade social e como compreendê-la. Em Projeto de Vida trabalhamos os sonhos dos estudantes, e para isso é necessário que sejamos muito realista.
Os estudantes precisam perceber que não estão sendo enganados quando falamos em sonho. Por isso mesmo sou muito honesta com eles, é necessário querer e se preparar para alcançar nossos sonhos. A questão não é apenas querer, e sim, fazer acontecer. Eu mesma decidi pela Docência já depois dos 30 anos, cursei faculdade e hoje sou professora.
Sonhar é ter um Projeto de Vida, e ter um projeto diante de uma realidade que parece ser feita contra a gente, não é fácil. Tive que viver com o fato de meu pai ter cometido suicídio com os filhos dentro de casa, eu não o vi morrendo porque minha irmã mais velha, não muito mais velha que eu, abraçou a gente, enquanto meu pai agonizava com um tiro na cabeça que ele mesmo deu.
Não estou contando isso para que sintam pena de mim, pelo amor de Deus, não sintam. Conto tão somente para que você possa me conhecer e entender a minha história. Seguimos a vida sem meu pai, casei-me e tive um filho. Acho que essa informação não seria necessária, mas você poderia me acusar de omissão e isso eu não admito.
Meu marido cometeu o erro de me humilhar, insistia em jogar na minha cara tudo que fazia por mim. O que culminou na nossa separação. Reafirmo o que pedi anteriormente, não sintam pena de mim. Estou casada com um homem que me respeita, meu filho está um homem e cursando direito na universidade, ele só me traz orgulho.
Se eu vivo algum drama na minha vida, é no meu trabalho. Tive o azar de encontrar uma diretora que pensa exatamente o contrário de tudo o que acredito. Se digo que devemos orientar os jovens para que entendam o que devem ou não fazer, ela os acoberta por achar que a realidade social deles justificam suas traquinagens.
Por diversas vezes divergimos por termos visões diferentes sobre o que é educação, para mim, é orientar os jovens sobre os caminhos a serem seguidos e os que não devem ser trilhados. Para ela, é entender que os jovens erram por ter uma realidade social, e que essa realidade justifica tudo o que eles fazem, até crimes.
Naquele dia decidi que não falaria mais, passaria toda a reunião em silêncio. A pauta era delicada, mais de noventa por cento dos professores haviam assinado um abaixo-assinado para que a diretora revisse seu posicionamento. Na reunião, no entanto, vimos ela a todo custo tentando justificar suas práticas, muitas também denunciadas pelos estudantes. Tais denúncias faziam parte do processo contra a diretora que seria encaminhado à Secretaria de Educação.
A cada absurdo por ela falado, mais eu me angustiava. Ela chegou a contar algumas mentiras me envolvendo, e eu me mantive em silêncio. Não iria me envolver, tinha prometido. Meu corpo reagia ao meu silêncio. Meu rosto avermelhado, ardia com as mentiras por ela contadas.
Até que ela soube que eu também havia assinado o documento contra ela e passou da defesa ao ataque. Encontrou defeitos no professor de matemática, no de português... até chegar a mim, colocando-me contra a parede para que eu pudesse falar a favor dela. Não, eu nunca mentiria por ninguém.
Ela exigiu que eu falasse, então eu disse a verdade sobre toda a orientação que ela me passava e a forma como ela lidava com os estudantes, obrigando-os a meditarem fosse lá o que o estudante tivesse feito. Então eu disse que não concordava com tal abordagem, para mim é necessário falar com o jovem de igual para igual, uma conversa franca, mostrando a eles o certo e o errado.
Claro que ela não gostou. E eu já esperava o que me aguardava, ela sempre perseguia quem discordasse de suas ideias, fosse professor ou estudante. Não fiquei surpresa quando ela me chamou para conversar. Pediu-me que falasse por ela caso o processo contra ela chegasse à Secretaria de Educação.
Disse-lhe que falaria a verdade, sempre. Nesse instante ela encarnou o meu ex-marido e alegou tudo o que a escola supostamente em seu nome tinha feito por mim. Não só isso, ameaçou-me de demissão. Mas como disse, tenho 42 anos, já vivi e morri inúmeras vezes. Não seria por ela que iria jogar todos os meus valores no lixo.
Eu chorei, chorei muito, não vou mentir. Revivi naquela conversa infeliz momentos muito difíceis da minha vida. Sempre busquei ser a mais honesta e sincera em tudo o que faço para que ninguém pudesse me humilhar, mas quando encontramos pessoas sem caráter nossos valores são considerados problemas.
Eu nunca trairia a minha profissão e os meus valores por nada. Ela continua diretora, fez o que era preciso para isso, inclusive trocou de marido. Eu continuo professora. Não falo mais para ela dos valores da convivência em grupo, nem da ética, ela é tudo aquilo que alguém não deveria ser na gestão de uma escola.
Infelizmente, não sou eu quem escolhe os gestores escolares. Escolho sim como agir diante dos outros e da vida, e nas reuniões daquela escola, enquanto eu trabalhar lá, enfrentarei as dores de cabeça a vermelhidão em meu rosto seguido de ardência, mas continuarei em silêncio. Aquilo que chamamos de democracia não cabe na gestão da inominável. Muito menos nas reuniões que preside. Silêncio! Esse é o meu mais novo Projeto de Vida.