Despertar
Despertar (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)
O sol batia os primeiros raios na janela do quarto. Por uma pequena fresta, viam-se pequenas partículas do pouco pó existente no ar. O despertador iniciava-se as primeiras batidas no martelinho, fazendo um som muito alto. Ligeiramente, a lâmpada elétrica brilhou lá no teto. Tirando os três cobertores do rosto, os olhos ainda meio fechados e sonolentos, fazendo algumas caretinhas para o despertador, abrindo mais os olhos, espreguiçando todo o corpo, respirando fundo, ajeitando os lindos e lisos cabelos, ainda meio presos a uma fita de elástico, Ritinha já estava pronta para iniciar o dia.
O galo cantou mais uma vez. Lá fora, ouvia-se o barulho forte do ônibus que cruzava a esquina. O vizinho ao lado abria a garagem para ligar o veículo. Já estava na hora de ir para a fazenda. Alguns pássaros davam os primeiros cânticos nos galhos da árvore de manga localizada no quintal.
Abrindo a porta do quarto lentamente, a mãe de Ritinha, com a voz bem suave e meiga, diz:
- Acorde, filha! Já está na hora de ir para a escola...
Olhando atentamente para mãe, ainda vestida com um pijama na cor azul clara, Ritinha faz algumas caretinhas. Espreguiça mais uma vez até que o corpo chegue no lugar. Lentamente retira os cobertores, pois o mês é junho e faz bastante frio lá fora. Lentamente, apoia as duas pequenas mãos nos dois lados da cama e ergue o frágil corpo de quatorze anos para frente. Com mais rapidez, aos poucos, ela senta na cama. Com o rosto ainda sonolento, levanta a mão esquerda e dá uma demorada coçada nos pequenos olhos. Abre a boca e boceja por alguns segundos. A noite foi muito boa, dormiu bem e deve ter tido alguns lindos e contáveis sonhos.
Virando-se a cabeça para o lado da porta e vendo que sua mãe a espera, ela dá um pequeno sorriso e fala:
- Mamãe, porque eu tenho que levantar tão cedo? A cama está uma delícia. Estava tão quentinho os cobertores. Qual o motivo de minha saída da cama?
Com um lindo sorriso nos lábios, arrumando a blusa sobre o pijama, a mãe gracejou. Pondo as mãos nos cabelos e os levando para trás, ela retrucou:
- Filha! A manhã está tão linda. Ouço o galo do vizinho cantar. As galinhas já estão de pé. Escuto o lindo cântico dos pássaros nos galhos da árvore. O sol já nasceu e, com ele, temos que movimentar o mundo. Você irá para a escola. Papai já levantou e foi para o trabalho. Eu também preciso ir trabalhar. Tenho o dia todo no plantão do hospital. Vou atender inúmeras pessoas. Vamos, o dia nos chama e precisamos ouvir o chamado dele...
Aproximando da filha, a mãe, rapidamente retira do guarda-roupa as vestes da filha. É o uniforme escolar e a blusa de frio. Está frio lá fora. Todos precisam trabalhar e jogar o frio para bem longe.
Repentinamente, a jovem se veste bem rápido. Sai depressa e entra no banheiro. Faz xixi, escova os dentes e lava o rosto. Sentiu-se mais aliviada, pois é sexta-feira. Amanhã será sábado e não terá aula. Poderá dormir até às dez horas da manhã. Por um tempo a mãe se esconde no outro quarto. Em pouco tempo, já sai vestida toda de branco e as duas se dirigem para a cozinha. É hora de tomar o rápido e gostoso café.
Ritinha sentou-se à mesa. Logo, a mãe abriu a geladeira, tirou o vasilhame de leite, o pote de manteiga, o queijo fresco. Foi um pouco mais para a direita, abrindo a porta do armário, pegou a latinha de chocolate e a lata com o pão francês fresquinho. Em outras latinhas estavam broa, bolo e biscoito.
Rapidamente, as duas tomaram leite com chocolate, comeram pão, queijo e manteiga. Ainda teve lugar para a broa, que a mãe preparou à noite.
Brincando de pique-boia, as duas foram correndo para o banheiro. Lá escovaram os dentes e Ritinha dirigiu-se para seu quarto.
Abrindo repentinamente a janela, a luz solar invadiu todo o quarto. Não mais precisava de iluminação elétrica para clareá-lo. Correndo para o interruptor de energia, a garota desligou a lâmpada. Sentando-se à frente do espelho e abrindo uma pequena gavetinha acoplada nele, a jovem escolhe o batom para passar nos lábios. Ficou por algum momento perdida se usava o vermelho ou o roxo. Pensou em usar um batom mais claro, mas resolveu que o vermelho mais forte ficaria melhor. Passou-o por várias vezes e fitando o espelho por um longo período.
Levantando-se rapidamente, ela se direcionou para próximo à janela. Lá, uma escrivaninha, com alguns cadernos e livros espalhados por sobre ela. Retratos da mãe e do pai, fotografias dela ainda pequena, de atores de novelas, da avó, do avô, enfim, vários retratos. Na parte debaixo, o computador portátil, com sua foto. Ao lado, mais adiante, um estojo com canetas, lápis de cor e os cadernos. Ligeiramente, ela pega cada caderno, pois já sabia de cor o horário e coloca um a um na mochila. Já ia esquecendo de dois livros, mas eles irão carregados na mão.
A mãe a chama, pois estão as duas um pouco atrasadas. Ela coloca a mochila nos ombros, pega os dois livros e repentinamente olha para o pequeno diário, bem junto à cabeceira da cama. Coloca os livros na cama e com as duas mãos pega o pequeno diário. Abre em alguma página e começa a ler. A felicidade contempla no rosto. Com o diário aberto, com as duas mãos ela o encosta sobre o pescoço e parte do tórax. Fechando os olhos, ela pensa...