Mudos e Silenciosos
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Chegaram pela manhã, em torno das dez horas. Vieram em três: um mais velho, o montador; dois jovens, os ajudantes, um com cabelo "black power" e outro com boné de "mano". Vão instalar as portas e janelas que vieram já prontas da fábrica e foram entregues no dia anterior na reforma que estou cuidando.
-Bom dia, tudo bem, fizeram boa viagem? - cumprimento-os. Estendo a mão ao mais velho para aperto. Parecia ser o pai dos rapazes.
-Bom dia! Sim, viemos bem, saímos às cinco horas da manhã - aperta a minha mão e diz: -Luciano.
-Prazer Luciano! - respondo e digo o meu nome.
Os rapazes me estenderam também as mãos sem nada dizer, aperto-as uma a uma:
- Tudo bem? - pergunto. Eles, calados.
Retiram as ferramentas do carro, ou melhor, as suas características malas duras com as marcas respectivas grifadas. Hoje tudo se faz com elas: furadeiras, serras, "esmerilhadeiras" e outras mais, pois facilitam muito os trabalhos, apesar de barulhentas. As colocam devidamente alinhadas no chão, silenciosamente. Parecem de gato, seus movimentos!
Informo ao Luciano como será a sequência da montagem, de onde para aonde. Os rapazes, quietos, começam cada um a fazer a sua tarefa, sem qualquer ordem ou instrução: o "mano" inicia a retirada dos plásticos das embalagens das esquadrias; o "black power" abre as caixas onde estão os acessórios de montagem e liga a extensão para alimentar com energia as máquinas, retirando-as das maletas. Luciano verifica o primeiro vão, mede e olha para os dois que pegam a respectiva janela, desembalam e trazem o quadro para ser instalado. Nenhuma palavra é dita! Depois serão colocadas as folhas de correr com os vidros já nelas. Assim começam os trabalhos, cada qual com a sua função, sem necessidade de qualquer orientação. Parece que trabalham anos juntos. Fazem tudo calados e silenciosamente. Focados! O único barulho esparso é o da furadeira. Até ela é silenciosa!
Fiquei impressionado. Muito diferente da "turma do Zezinho" - os mineiros que fizeram os serviços de pedreiro e carpinteiro - barulhenta, com música sertaneja alta no rádio, conversadora e gozadora, com o jeito mineiro de falar e rir - era uma festa! Agora, só se escutam murmúrios, o curto zunir de uma ferramenta e nada mais.
Colocam o quadro da primeira janela, nivelam e fixam em cerca de dez minutos. As duas folhas de correr com os vidros em mais quinze minutos. Aplicam a espuma expansiva nas frestas junto à parede e pronto: está montada a primeira janela. Faltam ainda os acabamentos finais.
Tudo foi tranquilo e coordenadamente feito, sem nenhum movimento ou ação desnecessária. Continuei me impressionando. Que harmonia, como uma orquestra!
Mas, havia as portas de correr envidraçadas, grandes e pesadas - todas com muita altura e largura, tendo uma delas quatro metros de largura e quatro folhas. Será que seria tão fácil assim?
Seguem em sua orquestração muda.
Montam a segunda janela e partem para uma das portas. Aguardo. Foi tranquilo, tanto quanto as janelas. Pensei: vão instalar todas as nove peças hoje, certeza! A mudez silenciosa deles continua - estão compenetrados em suas ações para não perder tempo. Sigo me impressionando: faz duas horas, quase hora do almoço e já estão duas janelas e duas portas colocadas!
O dia segue, deixo um pouco o acompanhar dos trabalhos. Volto no meio da tarde e estão colocadas mais duas portas e as duas janelas menores do lavabo e despensa também. O silêncio continua junto com o trabalho, inseparável. Puxo conversa:
-Vocês sempre trabalham assim, silenciosamente?
-Sim! Estamos acostumados. Muita falação distrai e sai besteira!
-São seus filhos?
-Não! Um é meu sobrinho (o "mano"), o outro está começando agora e vai indo bem, aprende fácil.
-Olha, estou mais impressionado ainda, pois não imaginava que um deles estivesse começando, parece veterano! Parabéns! Treinou muito bem a sua equipe, como uma orquestra: trabalham em perfeita harmonia.
Ele e os pupilos continuam, indo agora para a porta maior. Acompanho, em silêncio também.
- A última! Espero que não dê problema - comento com eles.
- Pois é. Às vezes elas é que dão, as últimas!
Os três levam o enorme quadro até o vão, levantam verticalmente, e o seu peso faz vergar um pouco a parte de cima do quadro. Ele enrosca em um dos lados, na parte superior do buraco na parede!
- Dito e feito! - resmungo - Não entrou! - complemento.
Luciano continua calmo, como os meninos; olha ali, olha lá, ajusta aqui e acolá e consegue, com jeito e experiência de quem sabe o que e como fazer, colocar o quadro no enorme vão. Perfeito!
Nada como quem sabe fazer, penso.
-Achei que não entraria! - comento.
-Foi tranquilo. Amanhã colocaremos as portas e finalizaremos as montagens de todos eles com os acabamentos. - disse em um murmúrio, quase um susurro.
E assim foi, terminaram as instalações das esquadrias no dia seguinte, da mesma forma como iniciaram: mudos e silenciosos.Perfeitos!
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