O pedido de casamento (Reeditado)
Dona Amália, ou melhor senhorita Amália, já passou dos quarenta anos e tem um sonho, se casar, desde que encontre o homem de seus sonhos. Namorados foram muitos, mas a moça sempre encontrava um defeito no rapaz que era logo ignorado por ela. Na cidade já haviam se escasseado os pretendentes. A maioria se casara e os poucos que ficaram solteiros já haviam sido rejeitados por ela.
Sua mãe dizia que o amor ainda não encontrara pouso em seu coração. E que assim que encontrasse o verdadeiro amor, não encontraria nenhum defeito no rapaz.
Amália foi madrinha da metade das moças da cidade. E pegou quase todos os buquês. Mesmo assim continuava solteira.
Passava os dias reclamando da sua sorte. E todo mundo já havia desistido de assistir o casamento da moça.
Num certo dia de verão, ela estava se refrescando no ribeirão. Se sentara no chão e colocara os pés na água. Passou então um teco teco rasante. Ela a princípio ficou amedrontada, pensou em correr para dentro de casa. No entanto a poucos metros dali a pequena aeronave pousou no grande descampado do sítio.
Amália retirou os pés da água e agilmente calçou as botas. Ficou de pé. Ensombrou o rosto com as mãos, no intuito de enxergar quem saia do teco teco. Viu então um homem de calças claras e camisa caqui sob o colete azul marinho. Notou que ele se dirigia em sua direção. Mas quem seria aquele atrevido que vinha pousar nas terras da família dela.
Assim que ficaram frente a frente ela notou que aquele homem não era um desconhecido. E com as feições carrancudas foi logo dizendo:
–Ocê?
– Minha querida Amália, vortei!
– Vortou, de onde?
– De muito longe.
– Mas o que ocê veio fazê aqui seu atrevido!
– Pedir sua mão em casamento.
– Eu disse que não poderia me casar com ocê.
– Deixa de bobeira Amália. Todo mundo sabe que seu sonho é se casar.
– Não caso, você não não preenche os requisitos.
– Que coisa mais esquisita, você não quer se casar comigo porque eu não aprecio lavá os pé.
– Isso mesmo, quero um marido que não tenha chulé.
– Intão tá, eu faço um esforço e lavó os pé todo dia.. Então ocê aceita meu pedido de casamento ?
– Bem se ocê promete que vai lavá os pé eu acei...
– Amália, Amália.
– Quem é aquela moça que tá lhe chamando?
– Minha prima Berenice, ela veio visitá nois...e
Nisso o rapaz, já se afastara indo conhecer a prima recém chegada.
– Dia moça!
– Dia!
E numa presteza ele tomou as mãos entre as suas e disse com a voz embargada.
– Como não tive o prazer de conhecer tão bela senhorita?
Amália de olhos arregalados, não se conteve com o atrevimento do pretendente.
– Ocê não tome de assanhamento pru lado de minha prima, porquê agora é meu noivo.
– Noivo? Eu? Claro que não, ocê nem respondeu meu pidido!
– Ora essa….ocê disse que lavá os pé se casar com eu.
Mas o rapaz só tem olhos pra prima de Amália. E desde então passou a cortejar a prima dela. Contou muitas proezas a moça. Falou de seus predicados, exagerou alguns. E Amália foi esquecida de vez.
O casamento se realizou, Amália foi a madrinha, pegou o buquê e ainda espera por seu amor.