Reminiscências - As Tropas
Lá no passado onde eu nasci, havia uma rua, pela qual passavam as tropas, conduzidas aos gritos dos tropeiros.
Aquela rua era caminho para o Matadouro, por isto aqueles animais seguiam, sempre na mesma direção.
Quando eu fugia de casa, algum vizinho gritava para me intimidar:
- Acioly vá já para dentro do pátio! Eu soube que está vindo uma tropa de gado brabo!
Ali perto, no sentido oposto à marcha das tropas, haviam dois açougues.
Todas as manhãs, a minha mãe me mandava buscar, numa bacia de alumínio, um quilo de carne de quarto.
Havia um barranco, pelo qual eu podia ir a um dos açougues, sem precisar atravessar a rua, e isto me tranquilizava, em relação ao medo das “tropas”.
Eu não comia carne, apenas porque não gostava, e isto preocupava o meu pai.
Aquela carne que eu buscava no açougue, era a mesma que eu via passar, ainda “andando”, e berrando, no rumo do matadouro.
Naquela primavera da existência, quando eu ainda pensava ser eterno, não percebia a semelhança, entre aquele gado e as gentes.
Alguns seguem repontados pelos tropeiros, outros inevitavelmente repontados pelo tempo.
Sempre na mesma direção.
Acioly Netto - www.guiadiscover.com