A VIDA E SUAS REMINISCÊNCIAS - I
Por Ramon Bismarck
Decidi contar esta história com base em meus
passeios noturnos por Lisboa, me lembrava
das poucas e boas aventuras do Brasil, uma
extensão que atravessava fronteiras. Observava todas as
noites, três mulheres, jovens, bonitas e espirituosas que
sentadas nas cadeiras de mármore de um pub comum, ficavam a
espera de seus possíveis amores, esses, que nunca
apareciam.
Augusto - Difícil narrar de fato tudo o que se sente. Como
ao menos pôr tudo num papel? É pouco provável que um dia
alguém possa ler essa história e se transportar para
dentro do meu imaginário, mas muito provável que um dia se
encontre esse conto com a intenção de evidenciar uma
história de amor ou loucura, afirmo anteriormente que
sendo este o objetivo, nem termine de ler!
Não tenho interesse algum em adquirir leitores, meu
objetivo sempre foi viver e analisar o mundo, transpondo
tudo para as páginas em branco. Isso me satisfazia, ou
melhor, me satisfaz, visto que estou tão próximo agora de
você que será impossível não nos envolvermos.
Mas enfim, eu nunca fui experiente com
imaginações, creio que você poderá me ajudar, crie a
alucinação e eu ponho as palavras, bem, nisso sou bom, tão
bom quanto pareço, talvez minha retórica não seja tão boa
ou talvez até minha escrita, mas afirmo que podemos
melhorar com o passar do tempo. Fiquemos mais a vontade, eu
ainda não estou tão a vontade quanto deveria estar, creio
que sua presença ainda me é um pouco perturbadora, talvez
eu esteja falando tudo isso com objetivo de sanar minha
solidão ou então de conhecer uma pessoa nova mesmo, mas a
certeza que tenho é de que se unirmos nossas ideias e
formamos um elo, podemos construir juntos um mar de
incríveis histórias, um turbilhão de informações e
“ilusões” que nos serão prazerosamente maravilhosos, sem
dispensar tanta pompa.
Então comecemos do início, um pequeno bar à beira da
estrada, belíssimos edifícios em sua volta, obras
monumentais de alto teor histórico, músicas tocadas por
belos jovens do rock’n roll, cigarros de maconha e uma
imensidão de vinhos e cervejas em todas as mesas, um bar
cercado por uma praça de antigas árvores e uma fonte que
jorrava uma água cristalina que brilhava com a luz
roxa/azul que vinha dos postes decorados com piscas,
inegavelmente uma belíssima obra da prefeitura, as luzes
dos holofotes direcionadas para o além e a multidão jovem e
louca gritava por mais bebidas e sorrisos. O ambiente não
tinha regras, cada um sentava-se a sua maneira, alguns
deitados no chão, forravam um longo pano branco e faziam
obras artesanais, outros em cima das árvores bebiam e
pichavam algumas poucas partes brancas dos muros, a polícia
bebia cerveja e sorria com a mistura agridoce dos
diferentes sons que se completavam.
Garrafas nos telhados, flanelinhas cadastrados vigiavam a
entrada e saída dos poucos veículos, pessoas andando
de um lado para o outro, alguns palpites de músicas,
algumas reguladas nos caixas sonoros, a lua compartilhava a
beleza com as estrelas e em meio a tudo isso, eu, só,
sentado numa das mesas rústicas de madeira que ali estavam,
degustava um bom camarão ao alho e óleo e tomava uma taça
milagrosa de vinho, a quinta da noite, paralelamente fazia
umas anotações, anotações essas que vós estão tendo o
privilégio de ler em primeira mão.
DO NADA ME DEU UMA VONTADE DE FALAR DO ÓBVIO, DO
DESCOMPLETO, DO ILUSÓRIO, DA FILOSOFIA, DE TODO DUALISMO
QUE PRENCHE MINHA CABEÇA NESTA NOITE. TALVEZ ATÉ
COMPARTILHAR MEU SENTIMENTO AGORA, embora já devas
conhecer, não falo de solidão, falo do biológico. Atingido
como um soco pela quinta taça de vinho, aturdido.
Quando se inicia um vínculo de amizade são necessárias duas
coisas fundamentais, número um- conheça-me, número dois - conheça-te. Portanto, seguindo a regra do seguimento,
começarei apresentando meus argumentos sobre onde estou, o
que sou e porque aqui estou.
Quando voltei de Lisboa, lugar de encantos mil, que me
fascinava há anos, devido à seus magistrais monumentos
arquitetônicos e uma rusticidade tão original quanto o
Coliseu de Roma, decidi descarregar minhas bagagens em um
dos hotéis mais baratos do Recife, posto que minhas
economias iam bem, mas não pretendia retornar tão cedo se
não fosse pela morte da minha mãe, esse momento não me
requeria desfrutar de um hotel tão confortável. Mas agora
você me pergunta, ora, sua família provavelmente deveria
ter alguma casa para sua estadia e afins, porque então não
ficar com eles? Têm sim, mas não me seria tão aprazível
ficar com estes, visto que uma coisa que sempre zelei
nesses poucos anos fora do Brasil, é a minha privacidade.
Minha família toda é paulistana, quando meus pais
envelheceram vieram para o Recife com a intenção exótica e
curiosa de tentar adquirir o sotaque nordestino, após cinco
anos neste lugar que vos falo, a estranha e inesperada
morte da minha mãe, pegou-me de surpresa, e no meu retorno
me fazendo reviver tudo o que havia passado em Pernambuco.
Começando pelos exóticos bares e pubs ao ar livre,
passando pela mistura de tribos e raças, chegando à tão
desejada liberdade, longe da censura repressiva da
sociedade rotineira. Como havia mencionado anteriormente no
início de nosso contato, a ressaca violenta na manhã
seguinte daquele vinho, me causou uma série de violentas
vomitadas na bacia do banheiro, eu estava irreconhecível,
não deveria de forma alguma ter bebido, hoje seria o
velório da minha mãe, aparecer para todos os entes antigos
e recentes naquele estado, não será nada agradável.
Poupando esses detalhes, e outros de como eu precisava de
fato passar pelo acontecido na noite anterior como forma de
liberar meus instintos saudosos e principalmente de como eu
acordei numa cama e quarto diferente no dia posterior.
ESPERA AÍ, CAMA E QUARTO DIFERENTES?
Desci as escadas do local desesperadamente, não era um
apartamento e sim uma casa com varanda e uma enorme piscina
morta, provavelmente o proprietário devia ser uma pessoa de
extrema classe, a julgar pela belíssima decoração e alguns
quadros de Monet. Continuei minha busca e a casa parecia
estar assombradamente vazia, exceto por alguns pequenos
animaizinhos que encontrei pelo caminho. Até que num dado
momento ao longe, avistei uma belíssima jovem, com um
vestido florido e longos cabelos negros, ela caminhava
lentamente observando as folhas das árvores e as borboletas
que voavam em sua companhia. Maldita ressaca que não me
permitiu ir até o seu encontro, esperaria até que ela
chegasse e me dissesse como acabar essa história, se é que acaba
...