Ludovico

Ludovico, assim que acordou, abriu as janelas para arejar o quarto. Arrumou a cama e partiu para a cozinha. Pensou em preparar a refeição matinal. Coou o café que no seu modo de dizer, parecia água de batata. Na lata só sobrara duas bolachas. Desejou um pão fresquinho com manteiga. Rejeitou a ideia de ir a padaria comprar pão, decidira ir a casa do compadre Quinca onde poderia se fartar com as deliciosas quitandas preparadas pela comadre.

Minutos depois, dirigia-se a casa do compadre, no entanto não havia ninguém em casa. Ficou algum tempo parado na calçada pensando o que faria. Ouviu o ronco de sua barriga. Atravessou a rua e entrou na padaria, grudou os olhos na vitrine de quitandas, salivou e enfim perguntou o preço da rosca com creme de baunilha. Assustou-se com o preço e saiu apressado.

Ocorreu lhe então, bater a porta do amigo Tião. Chegou a tempo de tomar o café da manhã. Indagou a dona da casa se havia bolo. A gentil senhora se desculpou por não ter um para servi-lo. Ludovico disse que não havia problema, que o pão com manteiga acompanhado de café seria suficiente.

Comeu um, dois, três pães. E na quarta xícara de café constatou que o pão acabara. Levantou-se e despediu dos donos da casa.

Naquele mês de junho soprava um vento frio. Resolveu sentar-se no banco da praça para se aquecer ao sol. Veio um conhecido sentar-se ao seu lado para uma prosa. O rapaz trazia um saco de pipocas na mão, ofereceu a Ludovico que sem acanho foi se servindo pouco a pouco. Quando o rapaz se foi, resolveu caminhar ao redor da praça.

Algumas voltas depois sentiu-se revigorado e ao consultar o relógio surpreendeu-se o quanto as horas passaram rápidas. Aproximava-se a hora do almoço. Decidiu que faria uma visita ao tio que não via há quase quinze dias.

Ao entrar estendeu as mãos afetuosamente ao tio. O senhor ergueu as sobrancelhas, olhou o relógio e perguntou ao sobrinho:

– Veio me visitar a essa hora?

– Pois é. Os negócios tomam a maior parte do meu tempo. Ou vinha agora, ou passaria muito mais tempo sem nos vermos.

– Muito bem, já almoçou?

– Ainda não!

– Almoça então?

– Já que aqui estou, acompanho o senhor com muito prazer.

Veio uma travessa de macarronada. Ele olhou por cima e torceu o nariz. Gostava de macarronada com bastante queijo ralado. No entanto, foi servido sem queijo. Almoçaram em silêncio, o tio comeu moderadamente enquanto o sobrinho tinha um apetite voraz. Ao fim da refeição consultou o tio sobre a sobremesa.

– Sobremesa? Não, não há sobremesa. Tenho evitado doces.

– Então, muito bem. Tenho que ir. Os negócios me esperam.

– Sei!

Saindo a rua, Ludovico admirou a beleza do dia. Pensou em fazer a sesta. Partiu então para casa. Abriu o belo portão de ferro fundido. Atravessou o átrio, passou pela sala e subiu as escadas de mármore, apoiando se no belo corrimão. Deitou-se na cama de dossel após ter vestido seu pijama de seda. Antes que fechasse os olhos pensou onde jantaria a noite.

Kelle Marinho
Enviado por Kelle Marinho em 13/05/2021
Código do texto: T7254969
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