Conto das terças-feiras – Ciúme doentio

Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE, 11 de maio de 2021

George e Amanda namoraram durante seis anos até resolverem casar-se. Ela com vinte e quatro anos e ele trinta e dois. Diferentemente de outros casais ela fora sempre ciumenta, um ciúme brando, no início, que depois virou doentio. O rapaz entrara em uma média confecção de roupas intimas feminina e coleção exclusiva, ainda na adolescência. Passara por todas as etapas do processo produtivo dessa empresa e crescera com ela. Como bom desenhista que era, especializou-se no atendimento às senhoras e senhoritas que para a loja se dirigiam à procura das novidades e, quase sempre saíam com as sacolas cheias, eram realmente bonitos os modelos criados pelo rapaz. A pedido das clientes habituais desenhava modelos de acordo com a personalidade de cada solicitante, e isso aumentara o seu prestígio entre elas.

Ainda no período de namoro e noivado Amanda já demonstrava ciúmes das freguesas. Ele nem dava bola para elas, era apaixonado pela futura esposa. Uma garota bonita e elegante, condição propiciada pelo rapaz, que sempre recebia pelo magnífico trabalho de estilista, alguns exemplares das roupas por ele desenhadas e produzidas na fábrica da patroa, que eram repassados para a jovem.

A primeira rusga de ciúme foi contra a dona da fábrica. Dizia Amanda que a mulher era apaixonada pelo seu namorado, que se jogava toda para ele, só faltava agarrá-lo, cair em seus braços. Fazia isso quando a garota ia buscá-lo na fábrica. Essa animosidade quase custou a demissão do rapaz, obrigando-o a dizer para a moça que a deixaria se isso acontecesse novamente. O rapaz tinha consciência de sua beleza e de sua facilidade de agradar a qualquer pessoa, fosse homem ou mulher. Só que isso não importava para ele, apenas desejava continuar executando o seu trabalho com perfeição, para permanecer no emprego, que lhe rendia bom dinheiro, e se casar com Amanda.

Casamento marcado as querelas sempre levantadas pela garota arrefeceram, deixando mais calmo o noivo e o matrimônio aconteceu. Após dois anos a esposa o convenceu a montar uma fábrica igual que trabalhava, pois só assim ele deixaria de ser domínio da patroa. Os argumentos para tal façanha foram tão convincentes, que ela, excelente costureira poderia trabalhar junto, o marido não teve dúvida, caiu como patinho. Levantaram empréstimo bancário, compraram as máquinas e todo o material necessário para dar início à tão sonhada empreitada.

Com a saída de George da fábrica onde trabalhara desde cedo, a empresa foi à falência tendo o rapaz herdado todas as suas antigas clientes. Seu empreendimento cresceu, e mais e mais freguesas foram em busca dos seus produtos. A esposa se irritava quando algumas delas só queiram ser atendidas pelo seu marido. O ciúme retornou e ficou mais sério quando uma das clientes mais assíduas e chatas, segundo Amanda, apareceu na loja da fábrica, querendo ser atendida pelo dono. Dirigindo-se à esposa do dono falou:

— Mocinha, quero falar com o dono, o estilista.

— Ele não se encontra, qual é o problema?

— Então venho outro dia, só quero ser atendido por ele, estou acostumada ser bem atendida pelo George, - falou provocante.

Em seguida a senhora saiu da loja resmungando. Amanda, ao acompanhá-la até à porta da loja:

— Senhora, por favor, não volte mais aqui, não queremos gente com esse comportamento, espanta a freguesia.

No outro dia a mesma senhora voltou e perguntou pelo estilista. Percebendo a aproximação de Amanda, ela, mais arrogante ainda, falou:

— Não se aproxime de mim, você é muito mal-educada. Não sei por que George mantem você trabalhando aqui.

Com toda a raiva possível, Amanda foi direto para casa. Lá encontrou George que ao ser questionado se conhecia uma fulaninha assim, assim... - respondeu:

— É uma das melhores clientes, ela não é grossa, é bastante educada.

Enfurecida a esposa foi até a cozinha, pegou uma faca de churrasco e voou para cima do marido, ferindo-o. Ele, assustado, saiu correndo pela porta da frente, nem percebera que fora ferido. Só apareceu seis dias depois, em companhia de um advogado. Veio tratar do divórcio. No contrato deixava tudo para a esposa, não queria nada, só paz. Antes explicara que os ferimentos provocados por ela o deixaram hospitalizado por três dias.

Acordo assinado, ele foi morar em Milão, Itália, já contratado por uma requintada grife de moda feminina.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 11/05/2021
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