Conto das terças-feiras – O menino e suas traquinagens

Gilberto Carvalho Pereira, Fortaleza, CE, 4 de maio de 2021

O garoto era impossível, não gostava de obedecer e quando era instado a se comportar relutava até sua mãe ameaçar colocá-lo de castigo. Muitas vezes era impedido de acompanhar as irmãs, por má conduta em casa, dizia que não gostava de sair, ir à praça andar de bicicleta porque ia se cansar, ficar suado. Preferia ficar em casa, deitado em sua cama assistindo televisão. Tinha apenas seis anos de idade. Era o rei da traquinagem. Era a década de 1980.

Não gostava de estudar, achava a professora de reforço escolar muito feia, com aqueles poucos cabelos brancos desgrenhados, a verruga no nariz e a falta de dentes, parecia uma bruxa. Eram apenas duas horas de aula por dia, três dias na semana, mesmo assim, detestava. Ele e mais quatro alunos eram colocados sentados frente a uma mesa preta, a voz estridulosa da velha professora a ditar palavras para eles escreverem, repugnava o garoto.

Costumava ameaçar fugir de casa, pular pela janela, ele morava no sexto andar. Dizia não ter medo, até que um dia o pai colocou uma cadeira em frente à janela, mandou que ele subisse e olhasse para baixo. Percebendo que altura estava, perguntou:

— O que acontece se eu pular?

— Você vira mel, respondeu o pai.

— Eu morro?

— Claro e vai ficar lá embaixo, o faxineiro é quem vai lavar o chão, eu nem chego perto. – completou o pai seriamente.

O garoto desceu da cadeira e chorando pediu desculpas, dizendo que nunca mais desejaria aquilo.

Em outra oportunidade a mãe foi chamada ao colégio, para falar com a diretora, uma freira. Era um aviso:

— Se esse garoto aprontar mais uma vez será expulso do colégio. Ele vive querendo tirar o corneto – chapéu de freira - da cabeça das irmãs, para saber se elas tinham a cabeça raspada. Também tenta levantar a saia delas para saber o que usam por baixo. Tem dias que ele toca o terror na sala de aula.

Preocupada a mãe ouvia aquilo perplexa, a irmã não parava de falar e mais coisas absurdas saiam da boca da irmã-diretora:

— Ontem mesmo ele jogou no chão o armário da irmã Josefina, um armário pesado, não sei onde foi buscar força para fazer isso.

— A desculpa dele foi que ela havia prometido chocolate, caso ele se comportasse. Como ele sabia onde eram guardadas as guloseimas das freiras, foi direto ao armário.

Depois de ouvir calada, sem reação, a mãe do garoto foi atrás de conforto na igreja, quem sabe rezando o menino não conserta? Ao entrar chorando na igreja foi recebida por um padre que acabara de descer ao salão principal do templo. Vendo aquela mulher aflita a chorar, convidou-a para se dirigir ao confessionário e contar o que estava acontecendo. Soluçando muito ela relatou o que acabara de saber pela diretora do colégio.

— Ele está metido com droga? Qual a idade dele? – perguntou o padre.

— Não é droga, é malcriação, não obedece a ninguém. Ele tem apenas seis anos, mas não conseguimos domá-lo.

— Minha filha, isso é falta de limites, vá para casa e dê-lhe umas boas chineladas, ele vai ficar comportado de agora em diante, garanto-lhe - finalizou o padre.

Com essa autorização, a mãe chegou em casa e procedeu como recomendado pelo velho padre. Foi uma sova daquelas, nem o marido se intrometeu. A cada chinelada o garoto ouvia da mãe porque ele estava apanhando. E por fim ela concluiu:

— Não quero saber de mais nenhuma reclamação do colégio. Amanhã você vai e volta a pé da aula de reforço escolar. Não mais vou deixa-lo de carro. É para entrar quietinho, fazer as tarefas, e bem-feitas, não quero nenhuma queixa da professora.

A partir daquele dia o garoto se tornou um exemplo de criança, sendo elogiado pelos professores, vizinhos e amigos dos pais.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 04/05/2021
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