Impotência
Tornou-se diferente, quase não falava. A barba era de vários dias e a roupa a mesma. Maria receou fazer-lhe perguntas e não ousou sugestões. Rejeitou o pão com manteiga e bebeu dose dupla de café. Quando saiu bateu a porta e deixou-a de coração apertado. Muitas crises já haviam suportado juntos mas esta, sem razão aparente, caíra sem que ninguém esperasse. Reformado por conveniência de serviço cirandava sem rumo mas ainda sem o peso que tinham os dias agora. Quando voltou foi para o quarto, despiu-se e chamou-a. Abraça-me, pediu. Tira a roupa e deita-te comigo. E embora fossem horas de fazer o almoço, de acabar de arrumar a casa, a mulher deitou-se vestida e tentou resistir quando a mão dele subiu pela saia, quando forçou a roupa interior. Despiu-se e ficou, deitada e imóvel, a senti-lo afagar-lhe os seios, a puxá-la para si com violência, a beijá-la. Percebeu que a barba a feria e, mesmo a contragosto, retribuiu os beijos, abraçou-o, segurou entre as suas mãos a cabeça do homem e viu que nenhuma erecção aconteceu para apaziguar o marido que gemia, crispado e ofegante, sobre a sua nudez. – Não te importes, Zé. Temos mais ocasiões, disse, o mundo não acaba agora, andas tenso, nenhuma necessidade tenho de sexo homem! Limpou-lhe as lágrimas, aconchegou-se a ele e ficaram em silêncio até a campainha da porta voltar a soar com feroz determinação. - Lá vou, lá vou, gritou erguendo-se, vestindo-se apressada, correndo para saber quem vinha sem ser esperado.