E Cuba não é tão Libre

02.05.2021

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“A história da cuba‐libre é controversa. Os cubanos contam que na festiva sequência da rendição espanhola em 1898, com a ajuda dos Estados Unidos, um oficial americano misturou um pouco do famoso rum da ilha com Coca-Cola e fez um brinde, dizendo "Por Cuba Libre”.

Os observadores destacam que a história da origem do lendário coquetel antecede à chegada da Coca-Cola em Cuba, o que não aconteceu até 1900.

Segundo alguns, Cuba já tinha um coquetel de rum chamado Cuba Libre, antes mesmo da primeira tentativa da ilha de ganhar a independência, conhecida como a “Guerra dos Dez Anos” (1868-1878) ou a “Grande Guerra”, e parecia muito com a versão influenciada pelos americanos, embora em vez de cola, levava mel.

Historiadores cubanos e espanhóis concordam que os rebeldes (cubanos) tomavam uma bebida com o mesmo nome muito antes da Grande Guerra, mas era feita com mel, água, rum e limão. Mas o fato é que a mistura de rum e Coca-Cola prevaleceu como Cuba Libre, como é conhecida hoje em todo o mundo.”

É a história que encontrei na internet. Estava curioso para saber como surgiu essa bebida, pois lembrei que a minha primeira grande bebedeira foi com ela entre os meus 14 e 15 anos. Faz mais de cinquenta anos. O tempo passa muito rápido.

Aconteceu em uma festa na casa de um amigo de um colega meu de escola, em condomínio de casas no bairro City Boaçava em São Paulo, praticamente desenvolvido pela família do amigo escolar, descendente de armênios, onde moravam todos no mesmo local como em um clã. Era como se estivéssemos em um sitio, com as ruas de chão batido, bem arborizado, de poucas casas e muitas áreas com vegetação nativa ainda; muito gostoso o bairro.

Ia lá com frequência aos finais de semana para jogar futebol em campinho feito por eles, aficionados desse esporte, onde os tios, primos e irmãos do meu amigo formavam vários times. Passávamos o sábado jogando e foi lá que conheci esse rapaz não armênio, morador no condomínio, que me convidou para uma festa em um sábado à noite na sua casa e “amarrei” o primeiro porre alcoólico da minha vida.

Na festa, como todo adolescente tímido que não sabia o que fazer com as mãos, colocando-as nos bolsos das calças, ficando em rodinhas com os outros e olhando de soslaio as meninas, comecei a beber a cuba libre, servida à vontade, para me soltar e desinibir. Alguns fumavam, fazendo-os sentir mais velhos, maduros, homens, adotando essas ações dos adultos.

As moças, ávidas para dançar as músicas, o faziam entre elas sob a luz estroboscópica no centro do salão. A maioria de nós ficava em grupos bebendo ou fumando, observando-as. Algumas mais desinibidas vinham e tiravam um dos rapazes para dançar e o ovacionávamos nervosos, ou aliviados de não sermos o escolhido. Eu não sabia dançar e tinha vergonha, como muitos ali.

Seguia bebendo, começando a me sentir mais leve, o pensamento solto, desinibindo-me a cada gole. Então, veio até mim uma prima do amigo armênio para dançarmos, as músicas eram na sua maioria do final dos anos sessenta, inicio dos setenta. Fui e comecei a me requebrar desengonçadamente sentindo a melodia me envolver. Pulei bastante, pode-se dizer assim, e a pista de dança começou a encher, os outros também perderam a timidez, juntaram-se ao grupo e a bagunça começou a fervilhar.

Vieram com seus copos de bebida, que era passado entre os rapazes, aumentando-se o grau alcoólico da turba adolescente, em um porre coletivo. Um detalhe, as moças não bebiam álcool, pouquíssimas o faziam, por ser considerada atitude de mulher desqualificada.

Então, o meu mundo começou a girar, a minha fala ficou pastosa, o meu olhar nebuloso e o meu riso fácil. Minhas ações pareciam em câmera lenta, sem perceber que o meu limite físico e psíquico já estava superado há muito tempo, pelo alto teor de álcool em meu corpo.

Fiquei enjoado, com o estomago virando, e cambaleante, fui ao banheiro ajoelhando-me no vaso. Um jorro líquido amarelado explodiu intempestivo da minha boca tingindo o branco da cerâmica. Fique ali como que rezando por bom tempo. Deixei a porta aberta e veio o dono da festa com o meu amigo saber como eu estava, também “breacos”. Disse-lhes que me sentia melhor. Levantei-me e tudo girava, a cabeça doía, como o estômago. Levaram-me até uma sala vazia da casa, onde havia uma ampla janela de vidro com vista para a rua e um sofá de couro marrom, deitando-me nele.

O mal estar continuava. Tudo girava, a cabeça doía e o enjoo continuava. Fui e voltei ao banheiro algumas vezes, até não ter mais o que expelir. Exauri todos os meus líquidos vitais. Acabei dormindo no sofá, sendo acordado pelo amigo da escola ao término da festa ao amanhecer, para ir curtir o sono alcoólico na sua casa. Dormi até o meio da tarde do domingo. Acordei com uma ressaca forte, a cabeça parecia um tambor e doía com qualquer movimento ou som, fora o gosto de “cabo de guarda chuva” na boca seca e grudenta. Um pesadelo sobreviver naquelas condições.

Depois desse acontecimento memorável e inesquecível, prometi a mim mesmo que nunca mais iria me embebedar, como é costumeiro nessas situações de culpa e dano ao corpo, o que de fato não aconteceu. Como dizia o meu pai, nunca diga nunca!

Foi assim que conheci a cuba libre, muito frequente e apreciada naquela época nas festas e encontros, mas não voltei mais a consumi-la, fiquei com ojeriza dessa bebida por um bom tempo. E Cuba não é tão Libre.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 02/05/2021
Código do texto: T7246428
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