DESERTO URBANO

Era uma noite meio fria. Deveria ser as primeiras horas da madrugada. Já não se ouvia mais um barulho do ronco do motor de qualquer circular trafegando pelo bairro. Na verdade, já não se via nenhuma alma perdida pelo bairro. Somente as luzes dos postes com os balanços das árvores faziam sintonia com as pequenas rajadas de vento daquela fúnebre noite. A rua era intensa. As casas aparentavam estar abandonadas. Nenhumas luzes das casas ou das árvores faziam sincronia com as luzes da rua junto das estrelas. Os cães nem latiam, afinal, para quê latir se nada lhes incomodavam... Os gatos aparentavam estar em extinção. Nem um mio ou meximento nos sacos de lixos organizado pela coleta de lixo da manhã que por poucas horas haveria de surgir (estava mexido). Cena duradoura. A Terra aparentava ter parado. O tempo aparentava se extinguir. O silêncio reinava. Tudo aquilo deve ter durado por volta de umas três horas... O tempo deu o suspiro de vida. As luzes das casas, pouca a poucas, começaram a botar a escuridão para correr. O silêncio de um modo acanhado aparentava ir junto. Passos leves, algumas vezes de pequenos tão suaves sussurros dava para ouvir próximo do meu aposento. Não era sempre! Com o passar do tempo o dia veio a clarear, a tal rua que naquela noite passada aparentava ser algum lugar do sertão, ganhou vida, veio a transformar numa das mais movimentadas avenidas da cidade. O gato ganhou vida. Os cães entraram na disputa. Não era muito atenciosamente notório pelos pedestres do momento, afinal, a correria do dia a dia, as exigências do trânsito, não lhes dava o valor que a eles deviam. Enfim, no mundo do capitalismo quem manda não é o amor, mas sim quem pode. Manda quem pode, obedece quem tem juízo!